segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Meu filho vai casar!

Alice Rossini

Meu filho vai casar! Simples assim, vai casar.

Ainda lembro os dias em que minha cabeça enviesada de mãe de primeira viagem, na companhia de minha mãe, também avó de primeira viagem, procurávamos, cheias de apreensões e critérios psicopedagógicos, uma creche que tivesse a amor de casa de avó, disciplina de colégio e segurança de casa de mãe. Um lugar que pudesse acolher meu filho, com apenas de 2 anos de idade.

Achamos uma, Montessoriana, que prestou-nos o relevante serviço de mostrar que o único lugar onde um ser humano não corre riscos é no ventre materno. Tudo bem, meu filho foi para uma escola com nome de flor e cara de sol - Girassol - e lá permaneceu até a quinta série, quando eu, mais chorosa que ele, o transferi para outra escola que tinha nome de missionário - Anchieta. Não faz muito tempo, não conseguia conter minhas lágrimas de saudade, das escolas, do que significaram na infância e na adolescência do meu filho e da época em que, ingenuamente, achava que poderia protegê-lo da vida.

Daí para a Politécnica de Engenharia, foi um pulo. Um vestibular, a certeza da aprovação e em 5 anos, levitávamos, ele e eu, pelo corredor do Salão Iemanjá, no Centro de Convenções, onde, simbolicamente, graduei-o engenheiro.

Tudo fluiu de forma aparentemente tão simples e tão rápida, que logo estaria vendo-o, cheio de malas, sumindo no corredor do aeroporto, indo morar em São Paulo, onde, durante 5 anos, viveu longe de mim, embora continuasse meu filho e minha casa, ainda sua casa.

Agora, meu filho vai casar! Simples assim? Nem tanto! Aliadas às minhas expectativas, minhas entranhas avisam que, mais uma vez, se apartará de mim e eu não poderei mais percorrer abrigos onde a segurança e o amor tenham a mesma intensidade das que frequentou durante toda sua vida. Agora, é ele quem percorre seus caminhos, à procura do melhor lugar que o acolha.

Para as que ainda não sabem, o corte deste cordão, ainda que nos traga felicidade e a certeza que fizemos "quase" tudo certo, é o mais difícil, porque definitivo. Não mais ouviremos portas se abrirem nas madrugadas, não mais vozes clamando ou reclamando - "mãe! quero água!", "compra o pão!", "manda passar aquela camisa!", "cadê meu tênis?", "essa comida está horrivel!", "você nunca mais fez aquele bolo de milho!" - não estaremos por perto quando o castigo ou a tarefa forem maiores que sua capacidade de suportá-los, quando a febre chegar, quando a chuva cair, quando o sol se abrir, quando o céu estiver cheio de estrelas ou todas sumirem e as nuvens o nublarem. Quando o dia amanhecer chuvoso, não podemos obrigá-los a levarem o agasalho e, sob o sol causticante, não espalharemos filtro solar sobre seus rostos e ombros, agora expostos ao sol, à chuva, à vida.

Meu filho vai casar. Nada simples, embora muito natural. Outra mulher dividirá com ele a própria vida! Que se façam felizes, que se aturem, se cuidem, se amparem e tenham, um pelo outro, muita compaixão. Resta a esperança que a distância e a vida que se imporá de forma inexorável, misture nossas lembranças e, nesta mistura, nossos corações se aproximem, mãe e filho, criador e criatura, sob a lei do eterno retorno, encontrem um no outro, respostas pra suas perguntas, redenção para seus pecados, e mais motivos para continuar a vida.

*Alice Rossini é aposentada, nada além disso
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sábado, 27 de dezembro de 2008

Dois amigos, dois Natais

Há pouco mais de duas semanas, um amigo perdeu a esposa, sua companheira de muitos anos. Foi de repente, um golpe inesperado. Fiquei triste com sua dor.

Anteontem, dia 25, uma amiga ganhou uma netinha, a primeira. Fiquei feliz com a sua alegria.
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Os pássaros e eu

Acabo de ler no portal G1 que uma família de Ribeirão Preto, interior de SP, vai passar alguns dias sem usar o carro para não espantar um beija-flor que fez o ninho debaixo do automóvel. É o tipo de notícia que chama a minha atenção, primeiro porque adoro bicho. E, depois, porque passo, pela segunda vez, por situação parecida.

A primeira foi há alguns anos; e, confesso, não foi tão prosaica. É que, em vez de um beija-flor, uma pomba aproveitou um fim de semana para colocar seus ovinhos em uma das plantas da janela do meu escritório. Quando cheguei, na segunda-feira, e fui levantar a veneziana, lá estava ela instalada no vaso, chocando os ovos. Levamos (as duas) um susto daqueles: eu, com o inusitado da situação, e ela, com aquele ser ameaçador. Mas logo compreendi que não me restava outra opção senão me conformar com a nova vizinha e evitar chegar à janela – ou fazê-lo com muito cuidado, para não assustá-la. E também nem pensar em levantar o vidro para regar as plantas. A sorte é que cacto agüenta muito tempo sem água.

Bem, um dia os pombos nasceram e eu, ao contrário do que imaginava, não fiquei nem um pouco enternecida. O problema não foi a feiúra dos dois bichinhos - pelados, com pescoço enrugado – mas o fato de empestearem o ninho/vaso com seus excrementos. Minha paciência já estava no limite depois de mais de um mês sem poder abrir a janela e limpar a imundície do peitoril, que só fazia aumentar.

À medida que cresciam e ganhavam penas, a aparência dos dois melhorava. Mas eu estava louca para que eles tomassem coragem e ganhassem o mundo. Levou um bom tempo até que o primeiro se animasse a voar. O outro, medroso, esperou mais uma semana para deixar o ninho. Comemorei o feito abrindo a janela e providenciando a limpeza e desinfecção do peitoril.

Atualmente, acompanho através da janela do meu quarto o surgimento de uma nova família de bem-te-vis. Desta vez, os ovos foram depositados em um ninho construído na jardineira do andar de cima. A fêmea fica no ninho, enquanto o macho vigia, empoleirado no alto de uma das inúmeras árvores da rua. O bichinho é atento, e bravo. Quando chego à janela, ele começa uma série de vôos ameaçadores em minha direção, piando alto (bem-te-vi, bem-te-vi!).

No início, eu me assustei, com medo de que ele se chocasse contra o vidro. Mas quando vi que ele passava a uma distância segura, relaxei e passei a observá-lo. Todos os dias, assim que me vê, ele dá um, dois, três vôos, cada um vindo de uma direção. Depois, sossega em um galho e permite que eu estique o pescoço para olhar a movimentação da fêmea e dos filhotes no ninho, cuja abertura, para minha sorte, está voltada para fora.

O que é curtição para mim, é frustração para os meus gatos, que também se aboletam na janela. Dá dó vê-los ali, atentos, de bigodes e orelhas em pé, emitindo aqueles miados curtos, típicos dos momentos de caça. Que, no que depender de mim, nunca acontecerá.
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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

No Brasil, é proibido envelhecer

Sérgio Gomes*

Acabo de completar 60 anos. Entrei naquela faixa etária que estão chamando eufemisticamente de “a melhor idade”.

Pois sim, como dizia a minha avó.

- Idade é pelanca só!

Também ando desconfiado dessa conversa de “melhor idade”, pois ao virar sexagenário ganhei de cara um belo presente dado pelo meu plano de saúde, que aplicou no meu seguro um formidável aumento de 140%.

Ao ver o tamanho da fatura, liguei para o plano, achando que eles haviam cobrado errado.

Nada. A moça do outro lado da linha logo me sapecou um gerúndio fulminante:

- É aumento automático para todos que vão estar fazendo 60 anos como o senhor.

Entendi, pessoas idosas correm mais riscos de contraírem doenças, daí o plano de seguro cobrar mais caro, para se prevenir.

Mas, precisava aumentar tanto? - pergunto eu, ao vento, por que no Brasil não se tem mesmo, a quem de direito, perguntar.

Acho que nada, rigorosamente nada, em qualquer parte do mundo, pode subir de uma hora para outra uma exorbitância dessas.

Não parece aumento, mas uma penalidade – é como se o sujeito idoso, ao completar 60 anos, tivesse cometido um crime, sendo logo forçado a pagar uma fiança pela teimosia existencial.

Fico imaginando o burocrata do plano de saúde constatando a minha promoção à terceira idade, dizendo lá para os seus botões:

- Ah, fez 60, não foi? Sujeito atrevido! Hummm!... Agora vai ver o que é bom para a tosse!

Não tossi não, mas realmente engasguei com o tamanho da fatura.

A segunda reação que tive foi a de ligar para o meu advogado, pensando em entrar na justiça contra o abusivo reajuste.

Levei balde de água fria. De acordo com ele, não adianta chiar, por que se trata de lei, está no contrato assinado, e todos que reclamam perdem.

Desconsolado, falei para a minha mulher:

- Tenho de reconhecer, você é que está certa!

- Por quê? – perguntou-me ela, sem entender.

- Há mais de duas décadas você não sai dos 39 anos! Continue assim.

- Ué, por quê?

- Você não imagina o quanto nós vamos economizar!

* Sérgio Gomes é jornalista.

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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Ex-JB

Sílvia Helena*

30 de agosto, almoço na Fiorentina com a galera do Jornal do Brasil de 30 anos atrás. Ao rever as pessoas, revivi com emoção um tempo passado, quando a gente, nós todos que estávamos ali, achávamos o jornalismo uma coisa muito legal de se fazer. Um meio honrado e honroso de se ganhar a vida. Olhando para trás, foi um privilégio ter participado daquele grupo, daquela redação - que hoje me parece tão extraordinária.

Por que? Não vejo mais no Brasil - talvez alguma exceção? - um espírito profissional como o que tínhamos:

- lealdade, que se chamava de "patota", "panela", e que se resumia a uma coisa que eu acho cada vez mais bonita e que simplificadamente se pode definir como "o amigo do meu amigo é meu amigo; o inimigo do meu amigo é meu inimigo";

- disposição para procurar uma boa história.;

- orgulho de um bom texto;

- compromisso com a defesa de idéias.

Isso, que não é pouco, parecia apenas normal.

Acabou. Não interessa procurar as razões: seria um exercício em vão. Chega de saudade.


* Sílvia Helena é jornalista e escritora.

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domingo, 13 de julho de 2008

Eu, versão 5.0


Gladis Costa

Aconteceu!

Numa noite eu tinha 49 anos e no outro dia, acordei com 50. Mas não foi só esta a diferença. Houve uma mudança perceptível dentro de mim, que teve início há alguns meses. Na época não conectei as coisas, mas na manhã do meu aniversário aquela angústia mudou, não que tivesse desaparecido, estava um pouco mais suave, como se o sapinho que a gente engole todos os dias tivesse ficado um pouco menor, ou com um sabor mais suave, ou com as perninhas não tão atravessadas, sabe, foi um pouco melhor.

Ninguém me avisou. Minhas amigas, que passaram por esta fase, ou se prepararam para isto e tiveram uma experiência muito agradável ou simplesmente sabiam que a coisa ia ser dolorida, tão doída que na tentativa de me poupar de saber com antecedência o quanto eu sofreria, preferiram nem me avisar. Não as culpo. Eu também faria o mesmo, porque ninguém merece.

O incrível é que todo o ano ficamos mais velhas, mas desta vez, mudam os dois dígitos e isto é que pega. Porque dos 20 aos 30, por exemplo, é a idade das experiências interessantes, dos romances arrebatadores, dos noivados e casamentos, dos 30 aos 40, você está no auge de sua carreira, seu casamento pode ter acabado e as mais felizes e mais rápidas já engataram num outro relacionamento, dos 40 aos 50, você já ganhou algum dinheiro, tem um bom network, as pessoas te conhecem, você exerce um certo papel no seu grupo, na sua família, enfim, se você está só, muitas vezes é por opção, por não querer alguém perguntando porque você demora tanto pra se arrumar, porque não sai do computador, porque fala tanto ao telefone, enfim, muitas vezes é o momento em que você é dona da sua vida, integralmente.

E agora, o que me espera? Dos 50 aos 60? Porque não consigo deixar de me ver dentro de outro grupo. Daquele grupo. Sei que posso ter um espírito jovem, mas o corpo tem vida própria. Ah, mas você dirá, “o que importa é sua cabeça”. Com certeza, mas sua cabeça é racional, lógica, ela é a primeira a te dizer: agora você faz o que você quer, ou melhor, você só faz o que você quer e se você prefere assistir a uma maratona do seu seriado preferido ao invés de sair com suas amigas, por que não? Qual o problema?

E tem os homens, ah os homens... Se experiência representasse alguma virtude para eles, eu estaria bem feliz. Tenho um amigo que costuma dizer: “Se eu quisesse um cérebro perto de mim, casava com o Einstein”. E hoje, do alto dos meus 50 anos, posso dizer com a boca cheia (ou não, na realidade, morrendo de vergonha): a única coisa que eu tenho é um cérebro, que já me deu alguns sustos no passado, hoje superados (e operados)! Porque, admito, estou fora do peso, uns bons quilos, e o pior, não me sinto culpada, não a ponto de pensar: “pôxa, preciso fazer alguma coisa”, só um pouquinho chateada porque nem todas as roupas legais são feitas para as gordinhas, de resto, troco qualquer sessão de academia por um bom livro. Nesta fase, por exemplo, estou encantada com uma autora portuguesa chamada Margarida Rebelo Pinto, que, depois de Marian Keyes, autora de Melancia, tem sido minha companheira de criado mudo. Margarida é uma notável escritora em seu país. Aqui tem uns três livros publicados e o que eu acabei de ler é “Alma de Pássaro”, lindo, sensível, maravilhoso. Bom, mas nesta fase em que me encontro, toda a obra que aborda o relacionamento difícil e conflituoso entre um homem e uma mulher é lindo, sensível e maravilhoso, portanto, há que se dar um desconto. Ela não é tão descontraída quanto Marian Keyes, mas os elementos estão todos lá: o humor, o sarcasmo, a ironia e esta reflexão sobre o mundo masculino e feminino. Eu já li “Não há coincidências” e “Sei lá” e continuo em êxtase. Ela é meio a Carrie Bradshow de Portugal. Carrie é a personagem vivida por Sara Jessica Parker no seriado “Sex and the City”.

Em tempo, já que mencionamos o assunto, assisti o filme "Sex and the City”. Bacana, podia ser mais profundo, aquela superficialidade que se reflete nas preocupações com a roupa, o sapato, a bolsa continuam. Dá a impressão que as mulheres do seriado não envelheceram ou pelo menos, fica a sensação que de que é apenas mais um episódio. Sabe, não fica muito clara a vivência ao longo do tempo que as separou de uma fase para outra. Sei lá, a gente muda tanto, não é mesmo? O que realmente aconteceu com a vida delas? Parece tudo tão simples, tão vazio. Bom, minha opinião.

Enfim, voltando à versão 5.0 de mim mesma. Este desabado é para falar do medo que estou sentindo por ser uma cinqüentona, mas não daquelas saradas, tipo Vera Fisher ou Sharon Stone, não, apenas uma cinqüentona assustada com o que pode rolar daqui para frente, torcendo para que os homens da minha idade me vejam como alguém do grupo, não alguém que já passou da fase de viver um relacionamento porque, “ela é meio coroa, né?”. Que as empresas me vejam como alguém que pode ensinar, por já ter vivido muito, por já ter passado por várias mudanças e que eu mesma, ao me olhar no espelho, veja lá no fundo uma criança feliz, que cresceu, virou uma garota bacana e agora, depois de tanto tempo, tanta coisa vivida, se transformou numa jovem mulher.


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domingo, 6 de julho de 2008

Meu coração vagabundo e grená

Rosane de Souza

Meu coração vagabundo e grená coleciona derrotas. Trago ele hoje nas mãos, o acaricio e, como uma pessoa saudável, o acolho e isolo de notícias do mundo. Não o deixo também saber de qualquer maldade ou piadinha idiota daqueles que sequer entraram em campo. É uma coisa pequena, vocês podem pensar, apenas brincadeiras com um jogo de futebol, mas no fundo mostra aquela parte da sordidez humana que adora ver o outro perder, se machucar. Que se regozija com a derrota alheia. O que se expõe como brincadeira em jogos revela o que se esconde na alma humana em outras áreas não triviais. Mozart soube disso como ninguém.

Algo em mim dizia, e manifestei isso várias vezes, que algo estava muito errado. Os sinais da derrota eram visíveis – meu gorro perdido, ingressos disputados como farinha pouca meu pirão primeiro (essa triste qualidade dos miquinhos amestrados da classe media) e, para culminar, os microfones do Maracanã aberto às idiotices big brodianas de Pedro Bial. Era, certamente, uma festa das celebridades cultivadas na pira da mediocridade. O, meu Deus, se tivéssemos pelo menos 10% dessa garra de torcer por um clube voltada para o nosso País, com certeza, viveríamos em um que nos desse orgulho. Até me emocionei com a faixa dos equatorianos: Gracias Equador. Sei que, hoje (não hoje, 3 de julho, mas nos dias atuais), eles têm do que se orgulhar.

Só uma coisa perturba hoje o meu coração grená, apaixonado e esquizofrênico, aquele que assiste impassível o que lhe dói, como se nada lhe dissesse respeito. ( Afinal, tenho muito trabalho a fazer). Eu fui assistir o jogo no Planeta do Chopp, na entrada da 28 de Setembro, por ser perto do Maraca. Dali, podia ver, e vi, as belas lágrimas verde e grená transvertidas de fogos. Quase podia tocar meu pai, o velho Chico que nunca foi Francisco e recebeu esse apelido por insondáveis caminhos só existentes em Salvador. Podia ouvi-lo, de novo, claramente e com o mesmo fascínio infantil, me dizer:”lembre-se: tricolor é tricolor em qualquer lugar. Aonde for, seja qual for o lugar que escolher para morar, tenha um time tricolor para torcer e sofrer as dores e as alegrias de ter três cores em seu coração”. Meu coração virou um arco-íris azul, vermelho, verde, grená e branco. Todo jogo é um reencontro com meu pai.

Na hora dos pênaltis, resolvi sair. Disputa de pênaltis sempre foi uma loteria pra mim – e jamais ganhei algo com ela, nem reles dez reais. Mas, no caminho, encontrei um homem , que, na imensa fragilidade da noite de ontem, me disse que ia ao mesmo barzinho onde assistia todos os jogos ver a disputa de pênaltis. Era seu amuleto. O carro, me disse, deixou na rua 8 de Dezembro, rua, aliás, onde moro. Até tentei convencê-lo a deixar o carro por lá – me disse que morava em Jacarepaguá. Mas me assegurou que não ia pela serra, escolheria outro caminho mais plano e chegaria em casa, apesar dos incontáveis chopps que tinha tomado. Fui com ele até o bar, ele pediu uma cerveja, fizemos o brinde dos assustados e, depois de tantos pênaltis perdidos (assim como qualquer esperança), disse que ia embora, deixei a minha parte da cerveja na mesa e sair, com medo do caminho que, sabia, teria de enfrentar até em casa – e enfrentei: fogos ameaçadores, gritos de um mengo que não vi em campo e até do medíocre Obina.

Meu coração, que não agüentou um só dia de um solene voto de só cuidar de si mesmo – depois de assistir tantos exemplos de farinha pouca, meu pirão primeiro – insiste em me dizer: não devia tê-lo deixado só. Aquele brinde, silencioso, pode muito bem ter sido o último que você fez com ele. Espero que não, mas o vi sequer perceber que falei com ele, que deixei o dinheiro. Olhava, estático, como se não acreditasse no que via, o gesto de silêncio que o mais novo escravo-alegre do futebol europeu fazia para a torcida tricolor. Não, não devia tê-lo deixado só. Meu coração vagabundo, grená e apaixonado não consegue se desvencilhar dos caminhos da solidariedade humana.

*Rose, jornalista, é baiana e, claro, torce pelo Bahia desde que nasceu. Mas, como boa geminiana, e seguindo os conselhos do pai, abriga o Fluminense em seu coração.


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domingo, 22 de junho de 2008

O mofo do exercício

Ainda dentro do tema academia de ginástica, lembrei de um “causo” engraçado. Um dia, quando entrei na sala de musculação, levei um susto ao me olhar no espelho: meu rosto estava coberto por uma máscara branca. É que, com o suor da corrida na esteira, o protetor solar, aparentemente absorvido após a aplicação, tinha voltado à superfície da pele e ficado incomodamente visível. “Cruzes! Acho que exagerei no protetor”, exclamei em voz alta.
Na mesma hora, uma mulher que se exercitava em um aparelho ao lado, rebateu dizendo que, pelo contrário, eu estava corretíssima. E a conversa engatou, tendo os benefícios do protetor para a pele como tema. Até que ela soltou esta pérola: “Eu freqüentei uma academia super chique, onde todo mundo botava quilos de protetor no rosto. Lá, quem não tem rosto branco, é considerado brega.”
Ai meus sais. As teorias mais recentes mostram que o exercício traz benefícios para os neurônios. OK. Mas tendo a concordar com a minha grande amiga Mausy, que diz que quem se exercita em excesso acaba ficando com os neurônios mofados.
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O barato do exercício


Hoje, com a cultura da saúde na ordem do dia, freqüentar uma academia de ginástica é de lei. Elas pululam na cidade, uma a cada quarteirão, às vezes mais. No entanto, houve um tempo em que a então chamada “educação física” existia, para a maioria das pessoas, apenas como disciplina obrigatória na escola.

Mas não para mim, que morei em casa e passei a infância de pé no chão. Sempre gostei de me movimentar: subia em árvore, jogava queimado, futebol (o que fazia com que os dedões estivessem sempre esfolados), volei, o que aparecesse. Na adolescência, toda aquela energia foi sendo canalizada para outras atividades como festas, namoros, etc. E, na universidade, para o exercício mental, o único admitido pela minha geração. Por um tempo, claro.

Acredito na teoria da memória muscular. Só ela pode explicar o que me levava, aos 23 anos, a me despencar de Santa Tereza, onde morava, para fazer ginástica em Ipanema. Como não tinha carro, pegava dois ônibus: um para descer o morro até o centro e outro para a zona sul. E não tinha outro jeito senão gastar pelo menos uma hora de viagem, pois academia de ginástica era coisa rara – Ipanema, por exemplo, só tinha duas. Ah, e tudo isso na maior moita. Não passava pela minha cabeça que, numa época de virar noites em bares esfumaçados, drogas e roquenrol, alguém do meu círculo mais próximo pudesse entender aquela minha, digamos, “necessidade”.

No início dos anos 80, o cenário mudou. Houve o boom das academias, impulsionado em boa parte pela atriz Jane Fonda, em fase pós-ativismo político. Mas justamente naquele momento em que a ginástica começava a se disseminar, cansei. Para mim, o encanto tinha acabado. Odiei as salas muito cheias, as aulas “marombadas” e sem criatividade.

Meio que na contramão da geração saúde, fui fazer ioga. Que, na época, era pronunciada com ó aberto e no feminino. Era “a” ioga. Depois, vieram a expressão corporal, a biodança, caminhada, meditação, RPG, hidroterapia... Mas a tal da “memória muscular” volta e meia me cutucava. E me arrastava para curtas temporadas na academia (bem pequena) ao lado da minha casa.

Bem, depois de muitas idas e vindas, de acordo com os altos e baixos do humor, cá estou de novo na academia. E, desta vez, tenho certeza de que é prá ficar. Adoro tanto a energia da corrida como os movimentos lentos, conscientes e vigorosos da musculação. Hipocondríaca assumida e jornalista (agora) da área de saúde, conheço de cor e salteado todos os benefícios do movimento para uma vida saudável, das endorfinas para o humor, dos exercícios com carga para o fortalecimento ósseo, etc. Mas acho que a melhor motivação para a atividade física ainda é a que foi dada pelo guitarrista Keith Richards, depois de conseguir se livrar de anos de consumo de drogas pesadas. O famoso Rolling Stone, disse em uma entrevista: descobri que o maior barato é corrida e banho frio.


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sexta-feira, 18 de abril de 2008

Papéis invertidos

Há momentos em que a gente se dá conta de que uma importante mudança está acontecendo em nossa vida. Primeiro amor, entrada na universidade, primeiro emprego, casamento, filhos... A partir dali, nada será como antes. O envelhecimento, fragilização e dependência dos nossos pais é um desses momentos. Na verdade, a não ser quando há um acidente ou uma doença grave, ele não ocorre abruptamente. É um processo que acontece aos poucos. E, quando vemos, aquela pessoa que nos criou, cuidou, educou e continuou ajudando quando nos tornamos adultos, vai demandando cada vez mais nossos cuidados. Os papéis se invertem: o(a) filho(a) se torna pai (mãe), e vice-versa.

É uma sensação muito estranha. E difícil. Até porque o outro lado geralmente se recusa a aceitar essa inversão de papéis. Sua vontade e autonomia são bens preciosos, dos quais não se pode abrir mão. Negativa, teimosia e mágoa são as armas que usa para se defender. “Onde já se viu? Eu te criei, e agora você vem me dizer que eu devo fazer isso e aquilo? Eu sei me cuidar”.

Não. Infelizmente, dolorosamente, ele(a) já não sabe – pelo menos com a presteza, segurança e eficiência de antes. Nessa hora, a gente vê que precisa tirar tapetes e outras armadilhas derrapantes da casa, conferir se está tomando os remédios, se bebe água suficiente, se toma sol... e por aí vai. O(a) nosso(a) novo(a) filho passa a demandar cada vez mais atenção e cuidados.

Mas a principal dificuldade não é o trabalho ou o tempo despendido. Afinal, nada mais justo que retribuir um pouco do que nos foi dado. O que pega é pensar que, talvez um dia, a gente também passe por isso. Que nos tornemos filhos dos nossos filhos. Talvez, talvez...


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sexta-feira, 7 de março de 2008

Profecia

Gustavo Teixeira*

Se entender o outro já é um negócio complicado, que dirá se relacionar com o outro!

Uma amiga brasileira de velhas datas, que também mora aqui nos Estados Unidos, veio conversar comigo esta semana. Entre queixas de saudades da vida no Brasil, ela deixou escapar que seu casamento não vai lá muito bem das pernas. Casada há quatro anos com um americano, disse que não sabe se vê mais futuro em seu relacionamento.

Mas o grande chiste é que, segundo ela, a pedra havia sido cantada exatamente quatro anos atrás – e, o que é pior, por uma pessoa completamente desconhecida. Quando foi acertar o vestido de noiva, e começou a contar detalhes do casamento por vir à costureira, também brasileira, esta lhe profetizou: “Não vai dar certo!” E a minha amiga, perplexa, indagou: “Como assim?” Ao que a senhora respondeu: “Também já fui casada com um americano, mas não dá certo, somos muito diferentes. São culturas muito diferentes. Gostamos mesmo é de brasileiros!”

À época, apaixonada e empolgada com o casório, a minha amiga não deu muita trela aquele papo que lhe pareceu sem pé nem cabeça. Mas confessou-me que atualmente, quando pensa em seu relacionamento, sempre lhe vem à mente a frase daquela senhora magra, de óculos bifocais e falar manso; de alfinete na mão e pronta a dar o último arremate naquele longo vestido branco.


“Gustavo Teixeira é ex-craque do meio-campo do Fluminense, tendo sido peça-chave na conquista de muitos títulos nacionais e internacionais para o clube, na década de 80. O Fluminense foi um famoso time de futebol-de-botão da Rua Pero de Góis, em Campos, interior do Rio.”

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sábado, 1 de março de 2008

Luto

Vera Dantas

Hoje eu estou de luto. Morreu meu sogro. Era uma figura ímpar. Jovem piloto da Aeronáutica, era corajoso a ponto de enfrentar com tranqüilidade uma queda do seu avião do Golfo do México. Sem se apavorar com os tubarões que viu por perto, esperou o seu resgate, que se deu nove horas depois.

Nacionalista, foi um dos militares comunistas da época. No Partido Comunista conviveu com Prestes, e escreveu, sob o codinome de Marcos Peri, um livro que ficou famoso na esquerda. E foi um dos mais ativos integrantes da campanha O Petróleo é Nosso, que acabou gerando a Petrobras. Sua militância e, principalmente, sua rigidez política e moral lhe custaram inúmeras prisões. Acontecia algum evento no Sul, ele era preso, embora estivesse no Norte.

Conheci-o já como coronel da reserva e advogando. Confesso que não foi confortável o primeiro encontro. Seu vozeirão e o rosto sério chegaram a me inspirar medo. Mas, passada a impressão inicial, tive a oportunidade de conhecer uma pessoa inteligente, generosa, amiga e profundamente preocupada com a realidade brasileira.

Modesto, era extremamente avesso a bajulações. Rejeitou diversas tentativas de homenageá-lo e também se recusou a se revelar como Marcos Peri. Certa vez, um mestrando que escolhera o livro dele como tema da sua tese entrou em contato com meu marido para interceder junto ao pai pela concessão de uma entrevista. Meu sogro, claro, recusou.

E assim continuou, discreto, reservado e estudioso. Foi o o melhor avô do mundo para seus netos, que o adoravam. O amor por eles era tanto que, abrindo a única exceção de sua vida, aceitou ser entrevistado por meu filho para um trabalho na faculdade de jornalismo.

Foi meu segundo pai, pois o meu morreu um ano após eu começar a namorar meu marido. Um pai severo, sim, mas generoso.

Por tudo isso, hoje eu me despeço de você, Sebastião Dantas Loureiro. Sogro, você fez da sua vida um enredo fascinante. Valeu!


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sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

The party is over?

Gustavo Teixeira*


O fenômeno da imigração de brasileiros para os Estados Unidos vem enfrentando a cada ano barreiras mais significativas. Depois de dois mandatos de um presidente que sequer colocou em pauta uma séria discussão a respeito da legalização de estrangeiros no país, e do progressivo aumento do número de policiais americanos guardando a borda com o México, um outro obstáculo – este mais difícil ainda de ser vencido, segundo especialistas – se coloca no caminho: a recessão da economia americana. Para os brasileiros, este fenômeno que os economistas tentam explicar com análises complicadas e linguajar difícil é entendido de forma muito simples: menos trabalho e dólar cada vez mais baixo em relação ao real.

Anos após anos de chegadas freqüentes de brasileiros em cidades mexicanas para tentar a famosa peregrinação do deserto, parece que a onda agora vai em sentido contrário: quem está fora está cabreiro de entrar; quem está dentro não vê a hora de sair.

Quando cheguei aos Estados Unidos (Boston-MA) em fins de 2003, o clima era outro. Ao encontrar compatriotas e lhes perguntar há quanto tempo estavam aqui, eram comuns respostas do tipo “semanas”, “meses”. Hoje, é digno de prêmio quem encontrar brasileiro aqui que tenha o mesmo tempo. E a frase que provavelmente mais ouço de brasileiros é: “Lembra de Fulano? Está de malas prontas de volta para o Brasil!”

O fato é que emprego (principalmente para ilegais) está cada vez mais difícil e a mágica de transformar dólares em reais e em qualidade de vida para os familiares no Brasil a cada dia mais sem cartas na manga. Uma famosa rede de “breakfast” na região da Nova Inglaterra que era porta de entrada certa para brasileiros recém-chegados, a Dunkin Donuts, decidiu parar com as contratações de ilegais. E os suados dólares de compatriotas nestas condições hoje se revertem nas casas de câmbio por valores que há tempos não se via.

A última ficha será lançada nas próximas eleições, já que tanto o senador Obama quanto a senadora Clinton, pelo lado democrata, enfatizam a necessidade urgente de um plano de legalização de imigrantes. O temor parte de uma possível vitória republicana, o que selaria de vez o sonho da imigração. Neste caso, é colocar o matulão nas costas e se mandar no primeiro pau-de-arara com destino ao sul do Equador porque a “party is over!”

* Gustavo Teixeira é um zé-ninguém e tampouco pretende ser alguém na vida!!!


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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Toques da dança

Vera Dantas

Embaixo do meu escritório tem uma estação de metrô, mas eu prefiro o ônibus para voltar para casa. E sempre procuro sentar do lado esquerdo. O motivo é que em frente ao primeiro ponto da rua São Clemente tem uma famosa academia de dança de salão. A frente do sobrado é totalmente envidraçada no térreo, o que permite a todos que passam ver, por alguns minutos, os pares deslizando pelo salão Aqui abro um parêntesis: é claro que naquela sala do térreo só tem fera; as aulas das turmas que ainda estão nos passos iniciais do tik-tik-tum (samba) e tum-e-tum (bolero) devem ser dadas em outras salas.

Com o pescoço esticado, fico vendo a movimentação da academia, enquanto o ônibus está parado. É um momento rápido, mas que mexe muito comigo. Isso porque desde que comecei a fazer aula de dança de salão, há cerca de dois anos, sou apaixonada pela prática. E agora, que fui forçada a parar por um tempo, fico com inveja, um olho comprido...

Sempre gostei de dançar. Aprendi o dois pra lá-dois pra cá quando era adolescente, nas festinhas familiares. Depois, quando surgiu a onda disco, me esbaldei. Mais tarde, fiz algumas tentativas para voltar à dança de salão, mas logo desistia. Um dia, estava fazendo musculação na academia quando olhei pela janela (ela de novo) e vi que na sala ao lado tinha um grupo fazendo uns movimentos dançantes em frente ao espelho. Era a primeira aula de dança de salão da academia. Corri para lá, entrei na aula e só sai quando a turma acabou, em meados de 2007.

Convidei meu marido que, por um tempo, fez aulas com a turma. Gostamos tanto que decidimos fazer aula particular com o professor, Erik, aos sábados. Mal sabíamos que, mais que uma mera aula de dança, estávamos fazendo uma verdadeira terapia. Foi um período cheio de descobertas, algumas deliciosas, outras um tanto ou quanto incômodas.

Muito da personalidade das pessoas se expressa através da dança. A postura, os passos, o (ou a falta de) equilíbrio, a colocação das mãos, a atenção à marcação e outros detalhes desnudam comportamentos, vícios, medos, insegurança, impetuosidade, desleixo. E por aí vai.

Há quem avança e não deixa espaço para o parceiro; alguns cavalheiros que apertam muito o braço da dama, como se ela fosse fugir; há damas que não se deixam conduzir, que se antecipam ao movimento do cavalheiro; há o ansioso, que não relaxa; há quem não aceite crítica do professor, fica amuado; e há também aquele que quer ser o centro das atenções...

No nosso caso, o início foi muito difícil. De vez em quando rolava um clima meio nervoso, que o Erik, com muito bom humor, conseguia reverter. Uma vez ele deixou escapar que muitas vezes, quando saía para dançar com sua namorada – uma super dançarina, professora-assistente da tal academia bonita e famosa -, eles acabavam brigando. Afinal, eram de academias com estilos diferentes e um sempre achava que o outro estava errado.

Bem, voltando ao casal, aos poucos fomos pegando o jeito da coisa. E, à medida que progredíamos, começamos a relaxar, a brincar com os erros. Curtíamos muito a aula. Mas o melhor mesmo era quando ela acabava. A sala voltava a ser só nossa e o baile começava.

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O assistente da gerência

Vera Dantas

Você precisa falar com o gerente de sua conta para resolver algum problema ou tirar uma dúvida que o atendente do bankfone não consegue esclarecer. Você disca o número da agência. Em vez da atendente habitual, uma voz eletrônica lhe dá boas vindas e pede, para agilizar o processo, que você digite o código da agência, o número da conta corrente e a senha. Feito assim, surge uma voz humana:

- Agência Xis, boa tarde, em que posso servi-la?
- Eu quero falar com o meu gerente, fulano de tal...
- Eu sou assistente da gerência, posso ajudá-la em algo?

Nas primeiras vezes em que isso aconteceu, eu relatei o assunto, mas a pessoa do outro lado da linha dizia não ter autonomia para resolver aquele determinado problema e informava que o gerente faria contato comigo. Eu ficava esperando, esperando, e nada.

Depois de algum tempo reclamei pessoalmente com o gerente. E, pasma, fiquei sabendo por ele que o tal assistente da gerência não existe. Que, na verdade, não existe sequer uma central telefônica com uma operadora na agência. Você é do Rio, mas é atendido, em um call center em SP, por uma pessoa que não tem nenhuma ligação com a agência. Se o gerente está ausente ou ocupado com outra ligação, você deixa nome e telefone para o retorno. Mas, muitas vezes, o tal “assistente” passa os dados errados, o que impede que o gerente saiba quem ligou. E, portanto, não pode retornar.

Eu não tenho nada contra a tecnologia, pelo contrário, pois foi a minha fonte de vida como jornalista durante muito tempo. Mas acho que ela existe para dar mais qualidade a um produto ou serviço. O que acontece, na prática, é o contrário do que apregoam os orgulhosos diretores de TI. O banco economiza reduzindo o número de funcionários na agência, contrata um sistema de telefonia “de última geração”, que “otimiza” o atendimento. Só que este torna-se cada vez mais impessoal, mecânico e, o que é pior, não presta o serviço aos usuários, que deveriam ser os maiores beneficiados com os investimentos tem tecnologia.

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O porteiro peladeiro

Vera Dantas


Imagine a situação inusitada. Um jovem estudante brasileiro, auto-exilado em Paris nos idos de 1970, recebe uma providencial oferta de emprego: ser porteiro de um cinema. Feliz com o reforço financeiro numa época de vacas magras, ele não hesitou em aceitar. Nem lembrou do ditado “quando a esmola é grande, o santo desconfia”. Só que ele não sabia a grande saia-justa que o esperava.

O protagonista é o Arthur Pereira Nunes, colaborador do Plenidade. E a história, ele conta com todos os detalhes* em seu blog Baú Digital, cujo link está na coluna ao lado. É diversão certa.



*Eu gostei tanto do episódio quando o ouvi pela primeira vez, que inclui um resumo no meu livro “Guerrilha Tecnológica”.

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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Amizade insone

Gal Pinchemel*



Ultimamente, tenho tido insônia pontualmente às 3 horas da madrugada. Na briga com o travesseiro, entre uma oração e uns carneirinhos contados, invariavelmente um pensamento surge: a amizade verdadeira.

Penso no ditado "amigos se contam nos dedos". Será que posso mesmo contar com esses poucos? Aí lembro da música do Milton Nascimento que diz que "amigo é coisa prá se guardar trancado a 7 chaves dentro do coração". Sinceramente, eu tranco todos eles no meu coração. Mas será que a recíproca é verdadeira? O pensamento progride: "até que ponto devo mantê-los do lado esquerdo do meu peito?"

É claro que há um motivo para a insônia e os pensamentos recorrentes sobre o tema amigos. É que, recentemente, chegou ao fim uma amizade que eu julgava eterna, tipo "até que a morte nos separe". Senti-me como se uma parte do meu corpo tivesse sido arrancada. Confesso: entrei em parafuso, me descabelei (fico imaginando o que teria acontecido se eu não tivesse a preciosa ajuda da terapia).

O sentimento atual é uma mistura de vazio e decepção, embora uma reaproximação já esteja acontecendo. É que eu sinto que, como um vaso que quebra, nunca mais será igual.

Voltando às minhas divagações noturnas, estou questionando se existe mesmo uma relação de amizade verdadeira. Se existe aquela pessoa que podemos considerar um irmão; aquela pessoa para quem contamos nossos segredos mais bem guardados; aquela pessoa que nos faz sentir que nunca estaremos sozinhos; e que nos estimula a fazer tudo por ela.

Não sei se sou muito exigente, mas é que, para mim, um amigo é a extensão da nossa alma.

*Gal é artesã, baiana e mora no Rio.


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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O cachorro

Gladis Costa*

Conversa de três mulheres na faixa dos 45 anos, durante um almoço:

- Marta: E aí, meninas, como estão as coisas?
- Val e Ju: Ah, tudo em ordem!
- Marta:Tudo em ordem, como? E os rapazes?
- Val: Que rapazes? (retocando o batom)
- Ju: É, que rapazes? (dando um gole na cerveja)
- Marta: Oras, os meninos, os caras, como andam as coisas?
- Val: O único homem que frequenta minha casa é meu filho. E cada vez menos, agora que arrumou uma namoradinha. (Revirando os olhos.....)
- Ju: É, bom, eu meio que tenho visto o Beto (olhando distraidamente para o fundo do copo)
- Marta: O Beto, aquele Beto, aquele casado salafrário que não vai separar da mulher e que já te largou milhões de vezes?
- Ju: É... este aí.
- Val: Mas a troco de quê? Vocês voltaram?
- Ju: Bom, a gente nunca terminou, oficialmente.
- Val: Mas oficialmente mesmo, do que você precisa? De um anúncio no jornal? Um outdoor? Uma intimação para sair da vida dele? Porque todo mundo sabe que ele não dá a mínima pra você....
- Marta: Calma, Val, pega leve, não é bem assim. Olhando para Ju: Escuta aqui, Ju, qual é o seu problema? Este cara acha que pode ir e voltar assim do nada? E você aceita?
- Ju: Bom, também não tem homem assim, a granel. Ah, os caras que aparecem são todos uns duros, recem saídos de relacionamentos, traumatizados e procurando garotas com a metade da minha idade. E com o Beto a coisa rola, é meio confortável, sabe.
- Val: Confortável? Ele te vê a hora que quer, o dia que quer, durante o tempo que ele quer e você acha confortável? Pra ele, você quer dizer?
- Ju: É. Prá mim também. Eu gosto desta vida, eu gosto dele.
- Val: Você não muda. mesmo. Parece que gosta de apanhar.
- Ju: É, tem razão. Mas, com ele, tudo é tão gostoso, é tão confortável, conhecido, aconchegante, macio...
- Marta: Credo, você está descrevendo o Beto ou um sapato velho?
- Val: É, poderia ser um sapato, um cachorro, um colchão... Sei não, hein...
- Marta: Para quem fala dele com tanta paixão, este lance de confortável e macio, é meio esquisito, hein? Tem certeza que ele é tudo isto?
- Ju: É. É um sapato, porque vive pisando em mim. Às vezes, é um cachorro, porque só apronta, bandido.
- Val: E o colchão?
- Ju: (Com um sorriso nos lábios). É tem o colchão.....uma vez ou outra, tão bom!
- Marta: Amiga, se conselho fosse bom, você sabe, a gente venderia, mas vou te dar um: Não trate com exclusividade quem te trata como opção.
- Ju: (Enxugando discretamente uma lágrima teimosa) Vou chamar o garçom.
Preciso ir embora. Prá encontrar o Beto, pensa tristemente. O cachorro.

Gladis Costa é consultora de marketing.

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sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

As oportunidades da idade avançada

Benedicto Ismael Camargo Dutra*

Dizem as estatísticas que a população do mundo está envelhecendo, pois os recursos da medicina, aliados aos métodos de planejamento familiar, têm elevado o percentual de população em idade mais avançada, inclusive nos países menos desenvolvidos em que muitas mulheres continuam gerando quatro filhos ou mais.

As pessoas com mais idade devem se sentir e agir como transmissores de ensinamentos e de cultura aos mais jovens para que estes possam promover a renovação que lhes é peculiar, impedindo, com isso, que a sociedade humana permaneça estagnada e repetindo costumes rotineiros sem base real. Aos jovens cabe o papel da incessante busca pelo novo que, inexoravelmente, será integrado ao antigo. No entanto, as novas gerações estão envelhecendo precocemente, no sentido de que estão pulando etapas importantes e desviando o impulso revigorante da adolescência e da juventude, ao invés de viver de forma plena.

Assim a vida passa celeremente, entrando numa rotina constrangedora em que o tempo disponível acaba não sendo plenamente aproveitado. Em contrapartida, as pessoas que ingressam na maturidade precisam lidar com alguns inconvenientes como a menor disposição para uma série de atividades e o aumento da predisposição para doenças. Em grande parte isso acontece pela falta de maiores cuidados com a saúde durante a vida, o que acarreta no declínio progressivo do corpo que se manifesta através de alguns sintomas, tais como atividade cerebral mais lenta, dores de toda espécie e oscilações no peso - para mais ou para menos. Podem ocorrer também outras conseqüências mais sérias e debilitantes, que muitas vezes requerem cuidados da parte dos filhos ou de parentes que passam a ser seus cuidadores. O grande problema, nesses casos, é que nem sempre filhos e parentes têm condições de prestar a adequada assistência.

Em eras passadas a idade não representava uma fase crítica, pois o próprio modo de viver proporcionava um envelhecer sadio amparado pelas forças naturais, sem as complicações observadas atualmente. Mas hoje é importante considerar que a maturidade é muito rica, na medida em que traz oportunidades para se repensar a vida e sua finalidade. E, em muitos casos, esse período permitirá compensar ações que deveriam ter sido praticadas na juventude e que por algum motivo não o foram. Como é o caso da busca do sentido da vida, a compreensão e o significado da continuidade da existência, a percepção de que a eternidade existe.

Fortalecer o impulso ascendente e o desejo de evoluir sempre é o que há de mais importante para ser feito nessa fase da vida, e para isso não se deve perder um minuto sequer. Assim o vivenciar se torna rico e frutífero, e a jovialidade interior pode até ressurgir, não obstante os efeitos dos anos já vividos se tornarem visíveis.

* Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, articulista colaborador de importantes jornais de São Paulo e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. Atualmente, é um dos coordenadores do www.library.com.br, site sem fins lucrativos, e autor dos livros Encontro com o Homem Sábio , Reencontro com o Homem Sábio, A Trajetória do Ser Humano na Terra e Nola – o manuscrito que abalou o mundo, editados pela Editora Nobel com o selo Marco Zero.


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sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A barreira dos 50

Gladis Costa*

Cheguei a conclusão de que 50 só pode ser igual a 2 x 25 na matemática. Na vida real mesmo, uma mulher de 50 não será nunca equivalente a 2 mulheres de 25 ( a não ser no peso, mas daí é outra história). Se você vai procurar um emprego, e diz que tem por volta de 50 anos (meu caso), ninguém te considera assim uma "Brastemp" de experiência, muito pelo contrário, na cabeça de alguns recrutadores, 50 significa que esta pessoa ou é cara ou não tem aquele pique que os milhões de universitários, ávidos por um primeiro emprego a qualquer custo, têm.

Já ouvi de head hunter a seguinte frase: "Olha, você tem uma vivência fantástica, é tudo o que consideramos que a empresa necessita, mas o cliente quer alguém entre 30-35 anos, no máximo". Tive vontade de perguntar: "O cliente por acaso está procurando uma noiva?" Porque eu só quero um trabalho, uma atividade onde possa exercer meus talentos, que não são poucos, (modéstia totalmente à parte) e mais nada. Não sei se com os homens a coisa funciona assim também. Não creio.

É por estas e outras que a gente vê uns chefes por aí que têm idade para ser - digamos, nossos filhos. E, ao nos entrevistar, deve pensar assim: Peraí, eu aqui um Super Motorola V8 e esta mulher com conhecimento que cabe num mainframe vai trabalhar aqui? Perto de mim? Nem pensar!!! Tenho certeza que às vezes causamos um certo temor nos chefes novinhos que existem por aí, não tirando o mérito de ninguém, porque acho que todo mundo tem seu espaço e expertise. Mas não é a idéia, de verdade, só queremos um lugar ao sol, que aliás já foi nosso uma vez.

A mulher de 50 tão múltipla em conhecimento, experiência, envolvimento e comprometimento, tão plena, tão cheia de idéias, de repente se vê numa pista onde só correm os mais novos, porque é isto mesmo, é uma competição, mas não é uma competição onde todos saem do mesmo ponto de partida. Não. Me dá a impressão de que às vezes até estou na frente deles, mas aí alguém me avisa que eles já estão na 3a. ou 4a. volta, e eu só estou na primeira.

Ah, se eles soubessem o que eu sei!

* Gladis Costa é consultora de marketing.

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sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

De vibradores e penitências

Vera Dantas

Uma nota publicada, esta semana, na coluna Boa Gente, do Globo, descrevendo o sorteio de um vibrador na pré-estréia do filme “Mulheres, sexo, verdades e mentiras”, me fez voltar no tempo. Depois, é claro, de dar boas risadas com a desventura do sorteado – o pobre coitado foi vítima de algumas piadinhas tipo “Experimenta!”, já que o acessório é (ou tem sido) voltado para o público feminino. Mas, voltando ao momento “recordar é viver”, pensei que uma cena como essa seria inimaginável na minha infância e adolescência. Da mesma forma que não passava pela cabeça de ninguém a possibilidade de vir a ter um celular.

Até meados da década de 60, sexo era um grande tabu. Para as mulheres, pelo menos. Crescemos convictas de que sexo era algo sujo, feio. A mulher “direita” era recatada e a virgindade deveria ser guardada, como um tesouro, até o casamento. Nesse dia, a noiva entrava na igreja orgulhosa em seu vestido branco, símbolo de sua pureza. A convenção era tão rígida, e respeitada, que as “não-puras” (as viúvas ou aquelas mais afoitas que tiveram o azar de engravidar) usavam um rosinha, um creme, um amarelinho. Branco, nunca! Ah, sem esquecer que, na época, não tinha divórcio e as desquitadas não podiam casar. Era assim e pronto. Ninguém questionava.

A chegada da pílula anticoncepcional abriu caminho para a liberação sexual. As mais antenadas, politizadas ou inquietas foram as primeiras a aproveitar a nova vida. Mas a grande maioria das meninas continuou com a sua vidinha recatada – embora nem tanto - ainda por um bom tempo.

Um detalhe interessante é que nos meios mais intelectualizados começou a funcionar um preconceito às avessas: quem era virgem era out. A marcação era forte, o que levava algumas meninas, que ainda eram virgens por pura falta de oportunidade, a tentar resolver o “problema” com algum colega. Lembro que, em 1969, ao entrar na universidade, fui alvo de uma aposta feita por algumas colegas do curso de ciências sociais. Como eu ainda fazia o estilo patricinha (que na época tinha outro nome), em contraste com o modelo intelectualizado e/ou revolucionário de uma boa parte dos alunos, é claro que a maioria apostou na minha pureza.

Hoje, o sexo está em revistas, filmes, nas sex shops, nos cursos de striptease, nos seriados e programas de TV que promovem astros de filmes pornôs e garotas de programa, e por ai vai.
Bem, isso é ruim? Sim e não. Os aspectos negativos são muitos, a começar pela exacerbação do tema, que não poupa nem o público infantil. Mas, para quem conhece de perto o outro lado da moeda e, como eu, estudou em colégio de freiras, essa banalização chega a ser divertida.

Fico pensando o que poderia ter acontecido se, quando adolescentes, tivéssemos mais informação e menos proibição e culpa. Se, em vez de um confessor que considerava nossas perguntas “pensamentos impuros” e prescrevia dezenas de Aves Marias e Padres Nossos para zerar esse débito, pudéssemos satisfazer nossa curiosidade vendo o programa da engraçadíssima Sue Johansen. Uma coisa, pelo menos, é certa: teríamos poupado um bom tempo de terapia

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quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Reveillon minimalista

Sonia Aguiar*

Sorria, você sobreviveu muito bem ao segundo reveillon sozinha, em onze anos. E por escolha, não por falta de opção. Pra quem já passou dos 50 é uma ótima marca! Preparou o cardápio e a mesa, lindamente: comprou flores, usou os melhores pratos, copos e talheres, tudo sobre uma impecável toalha branca e sob luz de velas. Arrumou-se e perfumou-se como se fosse sair ou receber alguém. Estourou seu primeiro espumante sozinha e o saboreou calmamente em taça de cristal. E ainda teve a ousadia de usar o controle remoto, na hora dos fogos, pra se livrar da falação daquela famosa emissora de tevê que ainda não descobriu que uma imagem vale mais do que mil palavras (ainda mais, se em movimento). E então, no outro canal, a melodia ao fundo das imagens sem narrativa sugeriu: “Smile” – como dizia Charles Chaplin, que se despediu do mundo uma semana antes da virada de 1977 para 78 – exatamente 30 anos atrás.

Sorria, mesmo que seu coração esteja doendo
Sorria, mesmo que ele esteja aos pedaços
(...)
Contra o medo e a tristeza, sorria
E aí pode ser que amanhã
Você veja o sol brilhando pra você [por detrás das nuvens].
Ilumine seu rosto com um ar de alegria
E esconda qualquer traço de melancolia
Ainda que uma lágrima
Esteja sempre ameaçando cair.
Justamente nessa hora
Você deve continuar tentando sorrir
(...)
Você descobrirá
Que a vida vale a pena
Se você simplesmente sorrir
(...)

Então sorria, também porque você sobreviveu à estranheza e ao ceticismo daqueles que perguntavam onde você ia passar o Ano Novo. Em casa? Com quem? Sozinha? Não acredito! Mas por que? Está deprimida???

“Ser solitária não significa viver na solidão”, lembra? A lição havia sido aprendida dois meses antes, numa viagem sonhada com uma certa companhia mas realizada, sem pezares, sem ela. Quem via as fotos (lindas, diga-se de passagem) morria de curiosidade: mas quem estava com você? quem tirou tantas fotos suas? precisamos conversar...

“To be confortable under your own skin” não é uma experiência fácil em nenhum idioma, cultura, idade ou gênero. Mas é especialmente desafiadora para as mulheres do século passado que ainda têm um longo prazo de validade a cumprir neste planetinha de subúrbio da galáxia – digamos, no mínimo mais 25 anos, pra quem está no início dos 50. E a viuvez feminina frente à masculina na velhice é uma sina para a qual ainda não se descobriu “cura”.

Esses pequenos exercícios de ficar bem em sua própria companhia são como as recomendações da medicina preventiva: não doem e evitam o mal maior. Se alguém duvidar que pode haver beleza, paz e harmonia em momentos de solidão, que ouça “Years of solitude”, de Astor Piazzola e Gerry Mulligan, em http://www.mp3tube.net/br/musics/Astor-Piazzola-Gerry-Mulligan-Years-Of-Solitude/95231/.


* Sonia Aguiar é professora aposentada do Departamento de Comunicação da UFF, mas não inativa: trabalha como consultora editorial e de Internet, e como pesquisadora de redes sociais.

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