segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Meu filho vai casar!

Alice Rossini

Meu filho vai casar! Simples assim, vai casar.

Ainda lembro os dias em que minha cabeça enviesada de mãe de primeira viagem, na companhia de minha mãe, também avó de primeira viagem, procurávamos, cheias de apreensões e critérios psicopedagógicos, uma creche que tivesse a amor de casa de avó, disciplina de colégio e segurança de casa de mãe. Um lugar que pudesse acolher meu filho, com apenas de 2 anos de idade.

Achamos uma, Montessoriana, que prestou-nos o relevante serviço de mostrar que o único lugar onde um ser humano não corre riscos é no ventre materno. Tudo bem, meu filho foi para uma escola com nome de flor e cara de sol - Girassol - e lá permaneceu até a quinta série, quando eu, mais chorosa que ele, o transferi para outra escola que tinha nome de missionário - Anchieta. Não faz muito tempo, não conseguia conter minhas lágrimas de saudade, das escolas, do que significaram na infância e na adolescência do meu filho e da época em que, ingenuamente, achava que poderia protegê-lo da vida.

Daí para a Politécnica de Engenharia, foi um pulo. Um vestibular, a certeza da aprovação e em 5 anos, levitávamos, ele e eu, pelo corredor do Salão Iemanjá, no Centro de Convenções, onde, simbolicamente, graduei-o engenheiro.

Tudo fluiu de forma aparentemente tão simples e tão rápida, que logo estaria vendo-o, cheio de malas, sumindo no corredor do aeroporto, indo morar em São Paulo, onde, durante 5 anos, viveu longe de mim, embora continuasse meu filho e minha casa, ainda sua casa.

Agora, meu filho vai casar! Simples assim? Nem tanto! Aliadas às minhas expectativas, minhas entranhas avisam que, mais uma vez, se apartará de mim e eu não poderei mais percorrer abrigos onde a segurança e o amor tenham a mesma intensidade das que frequentou durante toda sua vida. Agora, é ele quem percorre seus caminhos, à procura do melhor lugar que o acolha.

Para as que ainda não sabem, o corte deste cordão, ainda que nos traga felicidade e a certeza que fizemos "quase" tudo certo, é o mais difícil, porque definitivo. Não mais ouviremos portas se abrirem nas madrugadas, não mais vozes clamando ou reclamando - "mãe! quero água!", "compra o pão!", "manda passar aquela camisa!", "cadê meu tênis?", "essa comida está horrivel!", "você nunca mais fez aquele bolo de milho!" - não estaremos por perto quando o castigo ou a tarefa forem maiores que sua capacidade de suportá-los, quando a febre chegar, quando a chuva cair, quando o sol se abrir, quando o céu estiver cheio de estrelas ou todas sumirem e as nuvens o nublarem. Quando o dia amanhecer chuvoso, não podemos obrigá-los a levarem o agasalho e, sob o sol causticante, não espalharemos filtro solar sobre seus rostos e ombros, agora expostos ao sol, à chuva, à vida.

Meu filho vai casar. Nada simples, embora muito natural. Outra mulher dividirá com ele a própria vida! Que se façam felizes, que se aturem, se cuidem, se amparem e tenham, um pelo outro, muita compaixão. Resta a esperança que a distância e a vida que se imporá de forma inexorável, misture nossas lembranças e, nesta mistura, nossos corações se aproximem, mãe e filho, criador e criatura, sob a lei do eterno retorno, encontrem um no outro, respostas pra suas perguntas, redenção para seus pecados, e mais motivos para continuar a vida.

*Alice Rossini é aposentada, nada além disso
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sábado, 27 de dezembro de 2008

Dois amigos, dois Natais

Há pouco mais de duas semanas, um amigo perdeu a esposa, sua companheira de muitos anos. Foi de repente, um golpe inesperado. Fiquei triste com sua dor.

Anteontem, dia 25, uma amiga ganhou uma netinha, a primeira. Fiquei feliz com a sua alegria.
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Os pássaros e eu

Acabo de ler no portal G1 que uma família de Ribeirão Preto, interior de SP, vai passar alguns dias sem usar o carro para não espantar um beija-flor que fez o ninho debaixo do automóvel. É o tipo de notícia que chama a minha atenção, primeiro porque adoro bicho. E, depois, porque passo, pela segunda vez, por situação parecida.

A primeira foi há alguns anos; e, confesso, não foi tão prosaica. É que, em vez de um beija-flor, uma pomba aproveitou um fim de semana para colocar seus ovinhos em uma das plantas da janela do meu escritório. Quando cheguei, na segunda-feira, e fui levantar a veneziana, lá estava ela instalada no vaso, chocando os ovos. Levamos (as duas) um susto daqueles: eu, com o inusitado da situação, e ela, com aquele ser ameaçador. Mas logo compreendi que não me restava outra opção senão me conformar com a nova vizinha e evitar chegar à janela – ou fazê-lo com muito cuidado, para não assustá-la. E também nem pensar em levantar o vidro para regar as plantas. A sorte é que cacto agüenta muito tempo sem água.

Bem, um dia os pombos nasceram e eu, ao contrário do que imaginava, não fiquei nem um pouco enternecida. O problema não foi a feiúra dos dois bichinhos - pelados, com pescoço enrugado – mas o fato de empestearem o ninho/vaso com seus excrementos. Minha paciência já estava no limite depois de mais de um mês sem poder abrir a janela e limpar a imundície do peitoril, que só fazia aumentar.

À medida que cresciam e ganhavam penas, a aparência dos dois melhorava. Mas eu estava louca para que eles tomassem coragem e ganhassem o mundo. Levou um bom tempo até que o primeiro se animasse a voar. O outro, medroso, esperou mais uma semana para deixar o ninho. Comemorei o feito abrindo a janela e providenciando a limpeza e desinfecção do peitoril.

Atualmente, acompanho através da janela do meu quarto o surgimento de uma nova família de bem-te-vis. Desta vez, os ovos foram depositados em um ninho construído na jardineira do andar de cima. A fêmea fica no ninho, enquanto o macho vigia, empoleirado no alto de uma das inúmeras árvores da rua. O bichinho é atento, e bravo. Quando chego à janela, ele começa uma série de vôos ameaçadores em minha direção, piando alto (bem-te-vi, bem-te-vi!).

No início, eu me assustei, com medo de que ele se chocasse contra o vidro. Mas quando vi que ele passava a uma distância segura, relaxei e passei a observá-lo. Todos os dias, assim que me vê, ele dá um, dois, três vôos, cada um vindo de uma direção. Depois, sossega em um galho e permite que eu estique o pescoço para olhar a movimentação da fêmea e dos filhotes no ninho, cuja abertura, para minha sorte, está voltada para fora.

O que é curtição para mim, é frustração para os meus gatos, que também se aboletam na janela. Dá dó vê-los ali, atentos, de bigodes e orelhas em pé, emitindo aqueles miados curtos, típicos dos momentos de caça. Que, no que depender de mim, nunca acontecerá.
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