sábado, 27 de dezembro de 2008

Os pássaros e eu

Acabo de ler no portal G1 que uma família de Ribeirão Preto, interior de SP, vai passar alguns dias sem usar o carro para não espantar um beija-flor que fez o ninho debaixo do automóvel. É o tipo de notícia que chama a minha atenção, primeiro porque adoro bicho. E, depois, porque passo, pela segunda vez, por situação parecida.

A primeira foi há alguns anos; e, confesso, não foi tão prosaica. É que, em vez de um beija-flor, uma pomba aproveitou um fim de semana para colocar seus ovinhos em uma das plantas da janela do meu escritório. Quando cheguei, na segunda-feira, e fui levantar a veneziana, lá estava ela instalada no vaso, chocando os ovos. Levamos (as duas) um susto daqueles: eu, com o inusitado da situação, e ela, com aquele ser ameaçador. Mas logo compreendi que não me restava outra opção senão me conformar com a nova vizinha e evitar chegar à janela – ou fazê-lo com muito cuidado, para não assustá-la. E também nem pensar em levantar o vidro para regar as plantas. A sorte é que cacto agüenta muito tempo sem água.

Bem, um dia os pombos nasceram e eu, ao contrário do que imaginava, não fiquei nem um pouco enternecida. O problema não foi a feiúra dos dois bichinhos - pelados, com pescoço enrugado – mas o fato de empestearem o ninho/vaso com seus excrementos. Minha paciência já estava no limite depois de mais de um mês sem poder abrir a janela e limpar a imundície do peitoril, que só fazia aumentar.

À medida que cresciam e ganhavam penas, a aparência dos dois melhorava. Mas eu estava louca para que eles tomassem coragem e ganhassem o mundo. Levou um bom tempo até que o primeiro se animasse a voar. O outro, medroso, esperou mais uma semana para deixar o ninho. Comemorei o feito abrindo a janela e providenciando a limpeza e desinfecção do peitoril.

Atualmente, acompanho através da janela do meu quarto o surgimento de uma nova família de bem-te-vis. Desta vez, os ovos foram depositados em um ninho construído na jardineira do andar de cima. A fêmea fica no ninho, enquanto o macho vigia, empoleirado no alto de uma das inúmeras árvores da rua. O bichinho é atento, e bravo. Quando chego à janela, ele começa uma série de vôos ameaçadores em minha direção, piando alto (bem-te-vi, bem-te-vi!).

No início, eu me assustei, com medo de que ele se chocasse contra o vidro. Mas quando vi que ele passava a uma distância segura, relaxei e passei a observá-lo. Todos os dias, assim que me vê, ele dá um, dois, três vôos, cada um vindo de uma direção. Depois, sossega em um galho e permite que eu estique o pescoço para olhar a movimentação da fêmea e dos filhotes no ninho, cuja abertura, para minha sorte, está voltada para fora.

O que é curtição para mim, é frustração para os meus gatos, que também se aboletam na janela. Dá dó vê-los ali, atentos, de bigodes e orelhas em pé, emitindo aqueles miados curtos, típicos dos momentos de caça. Que, no que depender de mim, nunca acontecerá.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Mesmo morando em plena cidade, todos os dias,recebo a visita de um beija flor. Num desses dias, que não deveria ter amanhecido,pensei:

Sentada na mesa da minha fome,
deitada na rede da minha preguiça,
em pé na varanda das minhas angústias,
olho através dos pingos da minha dor e enxergo através da inveja da minha agonia,
Um pássaro!
Asas leves, bico forte,perfura meus tumultos,
e foge nas asas da minha paz...