Vera Dantas
Hoje eu estou de luto. Morreu meu sogro. Era uma figura ímpar. Jovem piloto da Aeronáutica, era corajoso a ponto de enfrentar com tranqüilidade uma queda do seu avião do Golfo do México. Sem se apavorar com os tubarões que viu por perto, esperou o seu resgate, que se deu nove horas depois.
Nacionalista, foi um dos militares comunistas da época. No Partido Comunista conviveu com Prestes, e escreveu, sob o codinome de Marcos Peri, um livro que ficou famoso na esquerda. E foi um dos mais ativos integrantes da campanha O Petróleo é Nosso, que acabou gerando a Petrobras. Sua militância e, principalmente, sua rigidez política e moral lhe custaram inúmeras prisões. Acontecia algum evento no Sul, ele era preso, embora estivesse no Norte.
Conheci-o já como coronel da reserva e advogando. Confesso que não foi confortável o primeiro encontro. Seu vozeirão e o rosto sério chegaram a me inspirar medo. Mas, passada a impressão inicial, tive a oportunidade de conhecer uma pessoa inteligente, generosa, amiga e profundamente preocupada com a realidade brasileira.
Modesto, era extremamente avesso a bajulações. Rejeitou diversas tentativas de homenageá-lo e também se recusou a se revelar como Marcos Peri. Certa vez, um mestrando que escolhera o livro dele como tema da sua tese entrou em contato com meu marido para interceder junto ao pai pela concessão de uma entrevista. Meu sogro, claro, recusou.
E assim continuou, discreto, reservado e estudioso. Foi o o melhor avô do mundo para seus netos, que o adoravam. O amor por eles era tanto que, abrindo a única exceção de sua vida, aceitou ser entrevistado por meu filho para um trabalho na faculdade de jornalismo.
Foi meu segundo pai, pois o meu morreu um ano após eu começar a namorar meu marido. Um pai severo, sim, mas generoso.
Por tudo isso, hoje eu me despeço de você, Sebastião Dantas Loureiro. Sogro, você fez da sua vida um enredo fascinante. Valeu!
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