sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

As oportunidades da idade avançada

Benedicto Ismael Camargo Dutra*

Dizem as estatísticas que a população do mundo está envelhecendo, pois os recursos da medicina, aliados aos métodos de planejamento familiar, têm elevado o percentual de população em idade mais avançada, inclusive nos países menos desenvolvidos em que muitas mulheres continuam gerando quatro filhos ou mais.

As pessoas com mais idade devem se sentir e agir como transmissores de ensinamentos e de cultura aos mais jovens para que estes possam promover a renovação que lhes é peculiar, impedindo, com isso, que a sociedade humana permaneça estagnada e repetindo costumes rotineiros sem base real. Aos jovens cabe o papel da incessante busca pelo novo que, inexoravelmente, será integrado ao antigo. No entanto, as novas gerações estão envelhecendo precocemente, no sentido de que estão pulando etapas importantes e desviando o impulso revigorante da adolescência e da juventude, ao invés de viver de forma plena.

Assim a vida passa celeremente, entrando numa rotina constrangedora em que o tempo disponível acaba não sendo plenamente aproveitado. Em contrapartida, as pessoas que ingressam na maturidade precisam lidar com alguns inconvenientes como a menor disposição para uma série de atividades e o aumento da predisposição para doenças. Em grande parte isso acontece pela falta de maiores cuidados com a saúde durante a vida, o que acarreta no declínio progressivo do corpo que se manifesta através de alguns sintomas, tais como atividade cerebral mais lenta, dores de toda espécie e oscilações no peso - para mais ou para menos. Podem ocorrer também outras conseqüências mais sérias e debilitantes, que muitas vezes requerem cuidados da parte dos filhos ou de parentes que passam a ser seus cuidadores. O grande problema, nesses casos, é que nem sempre filhos e parentes têm condições de prestar a adequada assistência.

Em eras passadas a idade não representava uma fase crítica, pois o próprio modo de viver proporcionava um envelhecer sadio amparado pelas forças naturais, sem as complicações observadas atualmente. Mas hoje é importante considerar que a maturidade é muito rica, na medida em que traz oportunidades para se repensar a vida e sua finalidade. E, em muitos casos, esse período permitirá compensar ações que deveriam ter sido praticadas na juventude e que por algum motivo não o foram. Como é o caso da busca do sentido da vida, a compreensão e o significado da continuidade da existência, a percepção de que a eternidade existe.

Fortalecer o impulso ascendente e o desejo de evoluir sempre é o que há de mais importante para ser feito nessa fase da vida, e para isso não se deve perder um minuto sequer. Assim o vivenciar se torna rico e frutífero, e a jovialidade interior pode até ressurgir, não obstante os efeitos dos anos já vividos se tornarem visíveis.

* Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, articulista colaborador de importantes jornais de São Paulo e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. Atualmente, é um dos coordenadores do www.library.com.br, site sem fins lucrativos, e autor dos livros Encontro com o Homem Sábio , Reencontro com o Homem Sábio, A Trajetória do Ser Humano na Terra e Nola – o manuscrito que abalou o mundo, editados pela Editora Nobel com o selo Marco Zero.


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sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A barreira dos 50

Gladis Costa*

Cheguei a conclusão de que 50 só pode ser igual a 2 x 25 na matemática. Na vida real mesmo, uma mulher de 50 não será nunca equivalente a 2 mulheres de 25 ( a não ser no peso, mas daí é outra história). Se você vai procurar um emprego, e diz que tem por volta de 50 anos (meu caso), ninguém te considera assim uma "Brastemp" de experiência, muito pelo contrário, na cabeça de alguns recrutadores, 50 significa que esta pessoa ou é cara ou não tem aquele pique que os milhões de universitários, ávidos por um primeiro emprego a qualquer custo, têm.

Já ouvi de head hunter a seguinte frase: "Olha, você tem uma vivência fantástica, é tudo o que consideramos que a empresa necessita, mas o cliente quer alguém entre 30-35 anos, no máximo". Tive vontade de perguntar: "O cliente por acaso está procurando uma noiva?" Porque eu só quero um trabalho, uma atividade onde possa exercer meus talentos, que não são poucos, (modéstia totalmente à parte) e mais nada. Não sei se com os homens a coisa funciona assim também. Não creio.

É por estas e outras que a gente vê uns chefes por aí que têm idade para ser - digamos, nossos filhos. E, ao nos entrevistar, deve pensar assim: Peraí, eu aqui um Super Motorola V8 e esta mulher com conhecimento que cabe num mainframe vai trabalhar aqui? Perto de mim? Nem pensar!!! Tenho certeza que às vezes causamos um certo temor nos chefes novinhos que existem por aí, não tirando o mérito de ninguém, porque acho que todo mundo tem seu espaço e expertise. Mas não é a idéia, de verdade, só queremos um lugar ao sol, que aliás já foi nosso uma vez.

A mulher de 50 tão múltipla em conhecimento, experiência, envolvimento e comprometimento, tão plena, tão cheia de idéias, de repente se vê numa pista onde só correm os mais novos, porque é isto mesmo, é uma competição, mas não é uma competição onde todos saem do mesmo ponto de partida. Não. Me dá a impressão de que às vezes até estou na frente deles, mas aí alguém me avisa que eles já estão na 3a. ou 4a. volta, e eu só estou na primeira.

Ah, se eles soubessem o que eu sei!

* Gladis Costa é consultora de marketing.

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sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

De vibradores e penitências

Vera Dantas

Uma nota publicada, esta semana, na coluna Boa Gente, do Globo, descrevendo o sorteio de um vibrador na pré-estréia do filme “Mulheres, sexo, verdades e mentiras”, me fez voltar no tempo. Depois, é claro, de dar boas risadas com a desventura do sorteado – o pobre coitado foi vítima de algumas piadinhas tipo “Experimenta!”, já que o acessório é (ou tem sido) voltado para o público feminino. Mas, voltando ao momento “recordar é viver”, pensei que uma cena como essa seria inimaginável na minha infância e adolescência. Da mesma forma que não passava pela cabeça de ninguém a possibilidade de vir a ter um celular.

Até meados da década de 60, sexo era um grande tabu. Para as mulheres, pelo menos. Crescemos convictas de que sexo era algo sujo, feio. A mulher “direita” era recatada e a virgindade deveria ser guardada, como um tesouro, até o casamento. Nesse dia, a noiva entrava na igreja orgulhosa em seu vestido branco, símbolo de sua pureza. A convenção era tão rígida, e respeitada, que as “não-puras” (as viúvas ou aquelas mais afoitas que tiveram o azar de engravidar) usavam um rosinha, um creme, um amarelinho. Branco, nunca! Ah, sem esquecer que, na época, não tinha divórcio e as desquitadas não podiam casar. Era assim e pronto. Ninguém questionava.

A chegada da pílula anticoncepcional abriu caminho para a liberação sexual. As mais antenadas, politizadas ou inquietas foram as primeiras a aproveitar a nova vida. Mas a grande maioria das meninas continuou com a sua vidinha recatada – embora nem tanto - ainda por um bom tempo.

Um detalhe interessante é que nos meios mais intelectualizados começou a funcionar um preconceito às avessas: quem era virgem era out. A marcação era forte, o que levava algumas meninas, que ainda eram virgens por pura falta de oportunidade, a tentar resolver o “problema” com algum colega. Lembro que, em 1969, ao entrar na universidade, fui alvo de uma aposta feita por algumas colegas do curso de ciências sociais. Como eu ainda fazia o estilo patricinha (que na época tinha outro nome), em contraste com o modelo intelectualizado e/ou revolucionário de uma boa parte dos alunos, é claro que a maioria apostou na minha pureza.

Hoje, o sexo está em revistas, filmes, nas sex shops, nos cursos de striptease, nos seriados e programas de TV que promovem astros de filmes pornôs e garotas de programa, e por ai vai.
Bem, isso é ruim? Sim e não. Os aspectos negativos são muitos, a começar pela exacerbação do tema, que não poupa nem o público infantil. Mas, para quem conhece de perto o outro lado da moeda e, como eu, estudou em colégio de freiras, essa banalização chega a ser divertida.

Fico pensando o que poderia ter acontecido se, quando adolescentes, tivéssemos mais informação e menos proibição e culpa. Se, em vez de um confessor que considerava nossas perguntas “pensamentos impuros” e prescrevia dezenas de Aves Marias e Padres Nossos para zerar esse débito, pudéssemos satisfazer nossa curiosidade vendo o programa da engraçadíssima Sue Johansen. Uma coisa, pelo menos, é certa: teríamos poupado um bom tempo de terapia

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quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Reveillon minimalista

Sonia Aguiar*

Sorria, você sobreviveu muito bem ao segundo reveillon sozinha, em onze anos. E por escolha, não por falta de opção. Pra quem já passou dos 50 é uma ótima marca! Preparou o cardápio e a mesa, lindamente: comprou flores, usou os melhores pratos, copos e talheres, tudo sobre uma impecável toalha branca e sob luz de velas. Arrumou-se e perfumou-se como se fosse sair ou receber alguém. Estourou seu primeiro espumante sozinha e o saboreou calmamente em taça de cristal. E ainda teve a ousadia de usar o controle remoto, na hora dos fogos, pra se livrar da falação daquela famosa emissora de tevê que ainda não descobriu que uma imagem vale mais do que mil palavras (ainda mais, se em movimento). E então, no outro canal, a melodia ao fundo das imagens sem narrativa sugeriu: “Smile” – como dizia Charles Chaplin, que se despediu do mundo uma semana antes da virada de 1977 para 78 – exatamente 30 anos atrás.

Sorria, mesmo que seu coração esteja doendo
Sorria, mesmo que ele esteja aos pedaços
(...)
Contra o medo e a tristeza, sorria
E aí pode ser que amanhã
Você veja o sol brilhando pra você [por detrás das nuvens].
Ilumine seu rosto com um ar de alegria
E esconda qualquer traço de melancolia
Ainda que uma lágrima
Esteja sempre ameaçando cair.
Justamente nessa hora
Você deve continuar tentando sorrir
(...)
Você descobrirá
Que a vida vale a pena
Se você simplesmente sorrir
(...)

Então sorria, também porque você sobreviveu à estranheza e ao ceticismo daqueles que perguntavam onde você ia passar o Ano Novo. Em casa? Com quem? Sozinha? Não acredito! Mas por que? Está deprimida???

“Ser solitária não significa viver na solidão”, lembra? A lição havia sido aprendida dois meses antes, numa viagem sonhada com uma certa companhia mas realizada, sem pezares, sem ela. Quem via as fotos (lindas, diga-se de passagem) morria de curiosidade: mas quem estava com você? quem tirou tantas fotos suas? precisamos conversar...

“To be confortable under your own skin” não é uma experiência fácil em nenhum idioma, cultura, idade ou gênero. Mas é especialmente desafiadora para as mulheres do século passado que ainda têm um longo prazo de validade a cumprir neste planetinha de subúrbio da galáxia – digamos, no mínimo mais 25 anos, pra quem está no início dos 50. E a viuvez feminina frente à masculina na velhice é uma sina para a qual ainda não se descobriu “cura”.

Esses pequenos exercícios de ficar bem em sua própria companhia são como as recomendações da medicina preventiva: não doem e evitam o mal maior. Se alguém duvidar que pode haver beleza, paz e harmonia em momentos de solidão, que ouça “Years of solitude”, de Astor Piazzola e Gerry Mulligan, em http://www.mp3tube.net/br/musics/Astor-Piazzola-Gerry-Mulligan-Years-Of-Solitude/95231/.


* Sonia Aguiar é professora aposentada do Departamento de Comunicação da UFF, mas não inativa: trabalha como consultora editorial e de Internet, e como pesquisadora de redes sociais.

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