sexta-feira, 18 de abril de 2008

Papéis invertidos

Há momentos em que a gente se dá conta de que uma importante mudança está acontecendo em nossa vida. Primeiro amor, entrada na universidade, primeiro emprego, casamento, filhos... A partir dali, nada será como antes. O envelhecimento, fragilização e dependência dos nossos pais é um desses momentos. Na verdade, a não ser quando há um acidente ou uma doença grave, ele não ocorre abruptamente. É um processo que acontece aos poucos. E, quando vemos, aquela pessoa que nos criou, cuidou, educou e continuou ajudando quando nos tornamos adultos, vai demandando cada vez mais nossos cuidados. Os papéis se invertem: o(a) filho(a) se torna pai (mãe), e vice-versa.

É uma sensação muito estranha. E difícil. Até porque o outro lado geralmente se recusa a aceitar essa inversão de papéis. Sua vontade e autonomia são bens preciosos, dos quais não se pode abrir mão. Negativa, teimosia e mágoa são as armas que usa para se defender. “Onde já se viu? Eu te criei, e agora você vem me dizer que eu devo fazer isso e aquilo? Eu sei me cuidar”.

Não. Infelizmente, dolorosamente, ele(a) já não sabe – pelo menos com a presteza, segurança e eficiência de antes. Nessa hora, a gente vê que precisa tirar tapetes e outras armadilhas derrapantes da casa, conferir se está tomando os remédios, se bebe água suficiente, se toma sol... e por aí vai. O(a) nosso(a) novo(a) filho passa a demandar cada vez mais atenção e cuidados.

Mas a principal dificuldade não é o trabalho ou o tempo despendido. Afinal, nada mais justo que retribuir um pouco do que nos foi dado. O que pega é pensar que, talvez um dia, a gente também passe por isso. Que nos tornemos filhos dos nossos filhos. Talvez, talvez...


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