segunda-feira, 22 de setembro de 2008

No Brasil, é proibido envelhecer

Sérgio Gomes*

Acabo de completar 60 anos. Entrei naquela faixa etária que estão chamando eufemisticamente de “a melhor idade”.

Pois sim, como dizia a minha avó.

- Idade é pelanca só!

Também ando desconfiado dessa conversa de “melhor idade”, pois ao virar sexagenário ganhei de cara um belo presente dado pelo meu plano de saúde, que aplicou no meu seguro um formidável aumento de 140%.

Ao ver o tamanho da fatura, liguei para o plano, achando que eles haviam cobrado errado.

Nada. A moça do outro lado da linha logo me sapecou um gerúndio fulminante:

- É aumento automático para todos que vão estar fazendo 60 anos como o senhor.

Entendi, pessoas idosas correm mais riscos de contraírem doenças, daí o plano de seguro cobrar mais caro, para se prevenir.

Mas, precisava aumentar tanto? - pergunto eu, ao vento, por que no Brasil não se tem mesmo, a quem de direito, perguntar.

Acho que nada, rigorosamente nada, em qualquer parte do mundo, pode subir de uma hora para outra uma exorbitância dessas.

Não parece aumento, mas uma penalidade – é como se o sujeito idoso, ao completar 60 anos, tivesse cometido um crime, sendo logo forçado a pagar uma fiança pela teimosia existencial.

Fico imaginando o burocrata do plano de saúde constatando a minha promoção à terceira idade, dizendo lá para os seus botões:

- Ah, fez 60, não foi? Sujeito atrevido! Hummm!... Agora vai ver o que é bom para a tosse!

Não tossi não, mas realmente engasguei com o tamanho da fatura.

A segunda reação que tive foi a de ligar para o meu advogado, pensando em entrar na justiça contra o abusivo reajuste.

Levei balde de água fria. De acordo com ele, não adianta chiar, por que se trata de lei, está no contrato assinado, e todos que reclamam perdem.

Desconsolado, falei para a minha mulher:

- Tenho de reconhecer, você é que está certa!

- Por quê? – perguntou-me ela, sem entender.

- Há mais de duas décadas você não sai dos 39 anos! Continue assim.

- Ué, por quê?

- Você não imagina o quanto nós vamos economizar!

* Sérgio Gomes é jornalista.

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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Ex-JB

Sílvia Helena*

30 de agosto, almoço na Fiorentina com a galera do Jornal do Brasil de 30 anos atrás. Ao rever as pessoas, revivi com emoção um tempo passado, quando a gente, nós todos que estávamos ali, achávamos o jornalismo uma coisa muito legal de se fazer. Um meio honrado e honroso de se ganhar a vida. Olhando para trás, foi um privilégio ter participado daquele grupo, daquela redação - que hoje me parece tão extraordinária.

Por que? Não vejo mais no Brasil - talvez alguma exceção? - um espírito profissional como o que tínhamos:

- lealdade, que se chamava de "patota", "panela", e que se resumia a uma coisa que eu acho cada vez mais bonita e que simplificadamente se pode definir como "o amigo do meu amigo é meu amigo; o inimigo do meu amigo é meu inimigo";

- disposição para procurar uma boa história.;

- orgulho de um bom texto;

- compromisso com a defesa de idéias.

Isso, que não é pouco, parecia apenas normal.

Acabou. Não interessa procurar as razões: seria um exercício em vão. Chega de saudade.


* Sílvia Helena é jornalista e escritora.

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