quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Amizade insone

Gal Pinchemel*



Ultimamente, tenho tido insônia pontualmente às 3 horas da madrugada. Na briga com o travesseiro, entre uma oração e uns carneirinhos contados, invariavelmente um pensamento surge: a amizade verdadeira.

Penso no ditado "amigos se contam nos dedos". Será que posso mesmo contar com esses poucos? Aí lembro da música do Milton Nascimento que diz que "amigo é coisa prá se guardar trancado a 7 chaves dentro do coração". Sinceramente, eu tranco todos eles no meu coração. Mas será que a recíproca é verdadeira? O pensamento progride: "até que ponto devo mantê-los do lado esquerdo do meu peito?"

É claro que há um motivo para a insônia e os pensamentos recorrentes sobre o tema amigos. É que, recentemente, chegou ao fim uma amizade que eu julgava eterna, tipo "até que a morte nos separe". Senti-me como se uma parte do meu corpo tivesse sido arrancada. Confesso: entrei em parafuso, me descabelei (fico imaginando o que teria acontecido se eu não tivesse a preciosa ajuda da terapia).

O sentimento atual é uma mistura de vazio e decepção, embora uma reaproximação já esteja acontecendo. É que eu sinto que, como um vaso que quebra, nunca mais será igual.

Voltando às minhas divagações noturnas, estou questionando se existe mesmo uma relação de amizade verdadeira. Se existe aquela pessoa que podemos considerar um irmão; aquela pessoa para quem contamos nossos segredos mais bem guardados; aquela pessoa que nos faz sentir que nunca estaremos sozinhos; e que nos estimula a fazer tudo por ela.

Não sei se sou muito exigente, mas é que, para mim, um amigo é a extensão da nossa alma.

*Gal é artesã, baiana e mora no Rio.


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2 comentários:

Anônimo disse...

Muito lindo, Gal! Também tenho insônias e sentimentos parecidos com os seus sobre amigos (só que, no meu caso, as duas coisas não estão ligadas, no momento). Já perdi uma grande amizade (de mais de 20 anos) por uma discussão tola sobre política, ao telefone. Mas ainda tenho amigas de mais de 30 anos, com quem não falo frequentemente, em função da distância, mas que quando reencontro é como se uma de nós tivesse apenas ido comprar pão na esquina. E outras, de "somente" 10 anos, com que tanto faço uma boa farra, quanto choro no ombro. O que nos une, o que nos separa? Se você descobrir a mágica, escreva uma outra crônica, tá?
Grande abraço, Sonia Aguiar

Zilma Damasceno disse...

Extremanete Comovente Gal.
Comovente, por saber do seu pensamento em relação à amizade verdadeira. E Me emocionou saber que existem pessoas ainda (ainda ?!!) com o coração repleto desse puro sentimento. que sem a prática, nada é.
Um vaso colado, jamais será o mesmo, concordo. (Mas prá que serve o dia a nascer todo dia? O Sol nascendo todos os dias?).
Questiono tb Gal.E os dedos da minha mão, são muitos para contar os AMIGOS VERDADEIROS. Pois muito se confundem...companheiros com amigos.
O importante Gal, é sermos AMIGO de todos, mesmo sabendo que nem todos são nossos amigos. Hoje escrevi um poema sobre o tema. Tá no www.recantodasletras.com.br bjs