sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

PREVISÕES PARA 2008

Arthur Pereira Nunes*


Fim de ano! Invariavemente, duas coisas acontecem: Roberto Carlos faz um espetáculo de Natal na Globo que aproveita a inesgotável audiência do Rei para lançar as previsões do ano entrante. E tome babaquice. Nesse clima, é indispensável que cada um traga sua contribuição. Esse blog não pode ficar de fora, (né, Verinha?). Assim, seus leitores fizeram uma pesquisa de opinião, cujos resultados surpreendentes devem ser amplamente divulgados pela mídia nos próximos dias. A turma da Plenidade elegeu por larga maioria a melhor previsão para 2008 (e não venham com perguntas sobre metodologia; é a mesma das pesquisas de opinião que ninguém discute e engole). Pois é, ao fim e ao cabo e respaldado no mais recente cacoete dos economistas, a pesquisa informa que:

Em 2008 não haverá sombra e água fresca para os sexagenários de meia oito. A fila do INSS vai tremer. Basta observar as fotos das passeatas de 68 para constatar que aquela garotada de 20 anos está prestes( êpa) a fazer valer as previsões de idade média de 72 anos de vida para sua geração. A moçada do Call Center do INSS, com sotaque lá de cima, irá descobrir que marcar consulta, pelo telefone, informando que a alternativa para Agendamento (!!!) em Santa Cruz ou Ilha do Governador não é exatamente o mesmo que resolver entre Boa Viagem ou Jaboatão. Muito menos entre Volta da Jurema e praia de Iracema ou Meireles.

Os colaboradoes do Call Center atualizarão o vernáculo ao ouvirem os sonoros comentários que provocarão ao informar que o "agendamento estará ocorrendo" para daqui a seis meses, caso não chova nem seja ponto facultativo. Pois é, lá se vão 40 anos e o INSS não perde por esperar. O temor é tamanho que cresce, a cada dia, o movimento para adiar os prazos para aposentadoria. (Que tal 4 séculos?). Mas é preciso lembrar que essa geração cresceu para a cidadania, aos 20 anos de idade, com um lema inesquecível e atualíssimo:

"sejamos realistas, exijamos o impossível.". Essa expressão, atribuída posteriormente a Marguerite Duras, correu mundo, repetida milhares de vezes, sem que se soubesse a origem, simbolizou uma época de sonhos e generosas utopias libertárias.

Essa geração que dormiu com o sonho, acordou e cresceu debaixo do porrete, agora faz fila no INSS. Tecnologicamente atualizada, faz "agendamento" pelo telefone. Por enquanto, a julgar pelo sotaque, os Call Centers parecem estar no Nordeste. Mas com a crescente globalização, ao fim e ao cabo, se providenciará os agendamentos via Bangalore! Derradeira porrada nos velhinhos da saudável delirante Marguerite Duras.



SOMBRA E ÁGUA FRESCA PARA OS SEXAGENÁRIOS DE MEIA OITO ! AFINAL, LÁ SE VÃO 40 ANOS. A FILA DO INSS NÃO PERDE POR ESPERAR.


*Arthur Pereira Nunes é profissional de informática, administrador e blogueiro (http://bau-digital.blogspot.com).

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quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Eu quero, além dos sapatos, uma vida que me caiba

Rosane de Souza*

Aprendi desde cedo, embora descalça e meio solta no mundo, que o fim dos casamentos era provocado, invariavelmente, pela mulher, que cismava em não saber agradar ao marido -- fazer comida e, ainda assim, se manter desejável, se possível, com ajuda de uma maquiagem e belos saltos altos. Até hoje tenho um misto de pena e inveja das que conseguem se equilibrar os saltos que a tornam feminina e alvo da cobiça dos homens. Mudou o mundo, mas até hoje as revistas ensinam como conquistar e segurar seu homem -- agora, com ajuda de plásticas e brinquedinhos sexuais.

Minha mãe desistiu de mim, a certa altura, quando reparou que os conselhos não funcionavam. Mas minha irmã, coitada, foi obrigada a fazer um torturante curso de culinária, na Casa da Itália, em Salvador, que até hoje não lhe serve de nada, porque, no meio do caminho, o curso da história mudou, e ela teve mesmo foi que voltar para escola e aprender o ofício de trabalhar até que o mercado, assim como os antigos maridos, a considerem imprestável.

Desemprego nos homens é um problema familiar e social muito grave. Que mulher ainda não ouviu ou leu, mesmo hoje, que deve ser paciente e saber administrar a vida do seu homem, quando ele perde o emprego? Mas, quando isso ocorre com a mulher, na maioria das vezes, todo o problema se resume a uma certa inapetência ou falta de disposição de ser manter para cima -- em alguns casos, pode ser até mesmo por influência dos astros. Nada que o pagamento de uns R$ 15 por um mapa astral não resolva. Quem ainda não ouviu também o conselho que é preciso fugir das tristes e das que estão para baixo -- e a tal ponto que a própria infeliz se tortura na busca de fórmulas para fugir de si mesmas?

Por isso, quero, além de sapatos, uma vida que me caiba, porque, além da eterna juventude e perspicácia para arrumar e manter um homem, andam nos exigindo a profissão de heroínas: sabedoria para enfrentar a adversidade, compreensão para com os filhos -- os despóticos maridos de hoje --, saber cozinhar, lavar e passar e, ao fim, encontrar, invisível, um cantinho para morrer, sem incomodar ninguém, porque muitas de nós, apanhadas por armadilhas inesperadas, ficaram, assim como os loucos sem asilos, sem os “provedores” (os maridos) e sem saber como se manter jovem para o mercado de trabalho ou encontrar o caminho do INSS.

Sem os sapatos e sem uma vida que as caibam, um grupo de mulheres indianas que se autodenomina gulabi gang, ou a gangue rosa, anda fazendo justiça com as próprias mãos na empobrecida região da cidade de Banda, no norte da Índia. “A gangue já deu surras em homens que abandonaram ou bateram em suas mulheres e denunciou práticas corruptas na distribuição de comida para os pobres. Elas vestem sáris cor-de-rosa (o sári é a roupa tradicional feminina na Índia), saem em perseguição de autoridades corruptas e, quando necessário, se armam com varas e machados”.

As centenas de adeptas da gangue fogem de associações com partidos políticos e organizações não-governamentais porque, nas palavras de sua líder, Sampat Pal Devi, "eles estão sempre esperando alguma coisa em troca quando oferecem ajuda financeira. Ninguém nos ajuda nessas redondezas. As autoridades e a polícia são corruptas e são contra os pobres. Então, às vezes temos de fazer justiça com as nossas mãos. Em outras situações, preferimos envergonhar os malfeitores", explica Sampat Pal Devi, enquanto ensina uma das mulheres da gangue a usar um lathi (vara tradicional indiana) em defesa própria”.

Ah, mas isso aí é política. E política ainda é coisa dos homens, mesmo quando é feita por mulheres quase homens de tão distante da vida que nós, mulheres, levamos.

*Rosane de Souza é (pela ordem) baiana, guerreira e jornalista.
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quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Fertilidade na idade da loba

Carolina Ynterian*

Enquanto se vive, sempre há tempo para tudo. Esse ditado popular pode valer para muitas situações, mas definitivamente não se aplica quando o assunto é maternidade. Nesse quesito, o tempo é implacável. Mesmo com os avanços fantásticos ocorridos nos últimos anos na medicina, especificamente na área de reprodução humana, e com a constatação de que estamos vivendo mais em comparação ao passado - na época dos faraós, no Egito antigo, poucas pessoas chegavam aos 45 anos e hoje, segundo o IBGE, a expectativa média de vida gira em torno dos 72 anos - ainda existem limitações para as mulheres que querem engravidar na fase madura, também chamada de idade da loba.

Não adianta. Não tem acordo. Apesar das várias conquistas no campo profissional - podemos ser engenheiras, físicas nucleares, motoristas de táxi, presidentes de empresas e exercer várias outras ocupações que eram de domínio exclusivo dos homens -, e de vitórias importantes no campo pessoal - temos a liberdade de viver a nossa sexualidade como bem entendemos, o que era impensável há apenas poucas décadas -, a biologia não nos acompanhou no mesmo compasso. A realidade tem confirmado que o tempo é mesmo um fator limitador. Se para uma mulher jovem a chance de engravidar por ciclo é de 30%, para as balzaquianas esse percentual cai para 20%. Após os 40 anos, apenas 5% terão filhosnaturalmente.

É injusto, não há dúvida. Numa época em que há tanto para se fazer, em que (quase) tudo é permitido, em que a cosmética evoluiu a ponto de contribuir para que possamos parecer mais belas e jovens por mais tempo, não é de se admirar que uma mulher acabe postergando a maternidade. O universo de possibilidades se expandiu e, com isso, nada mais natural do que querer tornar-se múltipla. E nesse afã de tentar abraçar o mundo com as mãos, o tempo passa muito mais rápido do que conseguimos perceber e quando finalmente o despertador do relógio biológico toca, vemos que estamos próximas aos 40 minutos do segundo tempo, quando as possibilidades de marcar o tão sonhado gol diminuem drasticamente e podem até inexistir sem a ajuda de um técnico experiente.

A boa notícia é que as mulheres que querem ser mães já contam com vários e excelentes "técnicos", ou seja, médicos, muitos dos quais reconhecidos internacionalmente e experts em reprodução assistida e que utilizam as mais variadas técnicas de reprodução, que se aperfeiçoam a cada dia. Em muitos casos, as chances de sucesso são grandes. Mas mesmo assim, requerem boa dose de paciência, determinação e repetição exaustiva das tentativas. Pessoalmente não passei por isso e tenho duas lindas filhas. Mas conheço muitas mulheres que não tiveram a mesma sorte. Sei como pode ser frustrante e sofrido o processo de querer engravidar e precisar passar por uma verdadeira maratona para transformar o sonho em realidade. Se isso já é complicado para as mulheres jovens, que também apresentam essa dificuldade mas que têm o tempo a seu favor, imagine para as que já passaram dos 40, em que cada dia faz, de fato, diferença.É importante saber que hoje existem ferramentas mais práticas e fáceis de usar que podem auxiliar as mulheres a monitorar seus períodos de fertilidade. Um dos exemplos é um auto-teste que pode ser comprado em farmácia e que tem como trunfo o de ser um importante aliado, não só da mulher que está tentando engravidar, mas também do médico que a está auxiliando nesse processo. Com ele, a mulher pode saber quando está em seu período fértil, com margem de acerto superior a 99%, porque consegue detectar qualitativamente o aumento do Hormônio Luteinizante (LH) que ocorre por um breve período, no meio do ciclo menstrual. Esse aumento, chamado de pico do LH e que pode ser identificado na urina, é o causador da ovulação. Saber quando isso acontece, com alta margem de acerto, pode reduzir em muito o tempo gasto em tentativas de engravidar. Através de testes como esse, a mulher sabe quando está fértil e se tiver relações sexuais nesse período, suas chances de sucesso aumentam consideravelmente.

Como bioquímica, especializada em biologia molecular, sei que o auto-teste é apenas uma ferramenta coadjuvante no complexo processo de reprodução, mas seu uso pode contribuir para que uma mulher realize o sonho de ser mãe. Lobas ou gatinhas, conservadoras ou modernas, profissionais ou donas-de-casas, ousadas ou tímidas, não importa em qual grupo se encaixem, todas igualmente merecem concretizar este belo projeto. Que a natureza e a ciência as abençoe nessa caminhada.


* Carolina Ynterian é bioquímica, especializada em biologia molecular e presidente da Associação das Indústrias Brasileiras de Produtos para Laboratórios (Assibral).


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terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Sapatos Neo-Cinderelas

Silvia Helena Rodrigues*

E preciso de um sapato. Mas não encontro, só porque ouso querer um sapato que caiba exatamente no meu pé. O que quer dizer:

- acomodar todos os meus dedos esticados e abertos
- permitir que eu consiga pisar o chão com o pé todo, inclusive o calcanhar, inclusive a borda interna do pé.

Trocando em miúdos: a frente do sapato tem que ser bem larga, mas bem larga mesmo: não vale empurrar o mindinho do pé para dentro, que eu sinto; e sem salto, porque, do contrário, você pisa só com a “bola do pé” – na expressão do mestre Kobi das saudosas aulas de Krav Magá - levantando o calcanhar para cima do salto.

Aos vinte e poucos, trinta anos, a maioria de nós já não têm os pés como eles realmente são: com os dedos esticados e separados uns dos outros, o peito do pé alongado, sem contrações que o encolham, e a sola inteira capaz de tocar o chão do calcanhar aos dedos, tanto com a borda interna quanto com a externa apoiadas no chão. Eu por exemplo costumava pisar mais com a borda externa, fato verificável pelo gasto das solas e saltos – baixos, nesse caso. E quando quase caía, me desequilibrando nas calçadas irregulares do Rio, era quase sempre porque meu pé virava para fora. O que não constitui privilégio da minha pessoa. Acontece com muitas...
Alguns fatores (e a respiração é um deles, mas essa já é uma história mais comprida) como, claro, os sapatos, deformam os nossos pés. No passado deformavam ainda mais. Na geração de nossas mães eram mais comuns os dedos em garra, os joanetes... Coisas em geral muito relevadas/irrelevantes, até marcas femininas, um pequeno preço a pagar por ser uma mulher de verdade.
Eu já ouvi de uma moça jovem que, na família dela, todas as mulheres têm os dedos dos pés em garra, hereditariamente. Ou seja, um sinal de identidade familiar entre as mulheres. Eu realmente não sei se pode ser assim, se existe essa memória no DNA que manda nos dedinhos dos pés, mas me chama atenção o fato de se poder encarar uma deformidade não como deformidade, mas como identidade. Mesmo porque deformidades têm as outras, não é? Quem de nós não criticaria amarrarem os pés das chinesas?
E o bico fino? Como fazem nossos pobres dedos para entrarem aí? No começo pode ser um pouco chato, mas chega uma hora em que não dói mais. Os dedos se conformam, fisicamente até: se juntam como podem, sobem uns por cima dos outros, se encolhem, se curvam, criam calos... Mas entram no bico fino. E o salto? O salto alto é um sério capítulo à parte. Dá a você uma elegância, um ar sexy. Tão mais elegante e sexy quanto mais alto for. Difícil abrir mão.
Esse ar elegante e sexy decorre da seguinte situação:
você pisa o chão somente com uma pequena parte da frente do seu pé – o resto da sola está no alto do salto, ou se esforçando para chegar a ele;
para que você não se desequilibre para a frente, seu corpo tem que ser suficientemente inteligente, ou malandro, para dar um jeito. Então:
contrai a musculatura das costas na altura das vértebras lombares, segurando o tronco para trás numa bela lordose que acentua (quanto mais, melhor!) a curva da coluna vertebral na altura da cintura e joga o bumbum para trás e os peitos para a frente. Observem as mulheres andando de salto, vejam os desfiles de moda, vejam, as propagandas – essa posição ficou tão legal, tão sexy, que é clássica na publicidade.
para acomodar o quê se passa entre o chão e a lombar, os joelhos rodam um pouco para dentro, fazendo com que os tornozelos, para compensar, rodem um pouco para fora. Os pés ficam meio abertos. Com o salto alto não se nota. Mas os pés habituados a andar de salto alto adquirem esse “vício” – daí a sensação do “andar de pata” quando sem salto.
Quando você quer se colocar em uma outra postura – digamos assim – fica difícil comprar um sapato. Os sapatos não foram feitos para nossos pés. Muito ao contrário, nossos pés devem se acomodar aos sapatos que fazem (quem fazem? por que fazem? seria esse um bom tema para a antropologia cultural?). Se eu chego à conclusão de que descer do salto, pisar no chão, é uma coisa saudável para minha vida....eu não encontro um sapato para comprar.
Porque também não vale um chinelão de hippie velha. Eu preciso de um sapato baixo e de bico largo, como qual eu possa andar confortavelmente e que também seja bonito, que também me deixe elegante. Seria isto ma contradição em termos, dada a postura que eu descrevi como considerada elegante? Não creio, mesmo porque também é elegante, numa outra estética válida, a postura da coluna reta e dos quadris encaixados.
Quem encontrar os novos sapatos, por favor, avise. Aposto que um bando de novas Cinderelas vão lá experimentar correndo.

Obs: as observações nos meus pés e nas posturas do corpo aqui expostas decorrem da prática da Antiginástica, técnica criada por Thérèse Bertherat.

* Silvia Helena é jornalista, escritora e faz formação em Antiginástica. Carioca, divide-se entre os escritórios do Rio e de São Paulo.
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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A dor e a delícia de passar dos 40

Silvia Giurlani*

"Não confie em ninguém com mais de 30 anos" era o slogan entoado pela bela canção de Marcos e Paulo Sérgio Valle e que os adolescentes, na década de 1970, repetiam à exaustão como um verdadeiro mantra. Hoje a nova ordem é "não confie em ninguém com mais de 30 anos, que nunca tenha aplicado botox, feito lipoaspiração, colocado silicone (nos seios, lábios, bochechas, bumbum) ou que não se mate em academias para manter um corpitcho sarado". E eu que sempre fui meio avessa à tudo que remeta à beleza artificial ou à prática de qualquer ginástica ou esporte (sou realmente alérgica a isso, a ponto de passar mal) sinto-me na contramão da história.
Era o que me faltava: no auge dos meus 48 anos, ser relegada ao mundo dos Ets ou ao Jurassic Park! E justo agora, que me sinto mais dona de mim, que já superei tantos medos e mágoas, que entendo melhor a humanidade, que já perdoei meus pais e meus desafetos, que já não preciso pagar ao analista para saber quem eu sou, a tal maturidade bate à porta e, junto com ela, a inexorável constatação de que meu corpo - esta tão incrível máquina, resultante da fantástica arquitetura cósmica - está se desgastando. Calores, impaciência e irritação provocados pelo fatídico climatério e o espelho cruel mostrando a cada dia uma nova ruga, ou que o rosto parece que deu uma caída, e a balança implacável que acusa novos quilos adquiridos sabe lá Deus como, são apenas alguns dos inconvenientes trazidos pela passagem do tempo.
E como se tudo isso não bastasse, ainda sou submetida a uma enxurrada de mensagens de médicos, nutricionistas, psicólogos, dermatologistas, especialistas em estética, celebridades, atrizes e modelos esqueléticas afirmando em uníssono de que é preciso tomar medidas urgentes para que a juventude não escape de vez. Socorro!! Querem me convencer que só envelhece quem quer! E pior: querem me fazer acreditar que ficar parecida como uma múmia paralítica e inchada (que é a aparência das que já passaram dos 40 e se entopem de botox) é mil vezes melhor do que deixar a natureza seguir seu curso.
Não é justo! Eu protesto! Claro que não acho nada divertido ver as mudanças no meu corpo, não ter mais a mesma disposição de outrora para tantas coisas, e tudo o mais. Mas o que há de errado em querer envelhecer com dignidade ? Óbvio que é preciso dar mais atenção à saúde, evitar abusos de qualquer espécie e não descuidar do visual. Mas por que cargas d’água devo querer ter uma aparência de 30 se já estou com 48?
Do jeito que a coisa vai e com os avanços da medicina e da genética, não me admiraria nada se, dentro de poucos anos, já pudermos literalmente comprar novos corpos. Nos meus delírios futuristas imagino um mundo em que será possível recriar o próprio corpo a partir de uma célula qualquer. Seria mais ou menos como uma clonagem, só que bem mais sofisticada que a atual e que permitiria algumas melhorias conforme o gosto do freguês. Assim, uma mulher que originalmente nasceu com culote, ao invés de se submeter a plásticas para corrigir essa pequena imperfeição estética, poderia encomendar um outro corpo, com ancas bem menos arredondadas. Veja bem, ela continuaria tendo as mesmas características básicas, mas poderia fazer algumas melhorias genéticas e corrigir o que bem entendesse. E quando a quilometragem avançasse, poderia comprar um corpo mais jovem e assim o sonho da juventude eterna se tornaria realidade.
Pode ser que muita gente vibre com essa idéia. De minha parte e sem o menor constrangimento em parecer mais uma vez "do contra", espero sinceramente já estar em outra dimensão SE ou QUANDO isso acontecer!

*Sílvia Giurlani é jornalista, mora em São Paulo
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sábado, 15 de dezembro de 2007

Papo de jovem

Vera Dantas

Convescote numa reunião de aniversário de um quase sessentão. Esparramados no sofá digerindo o ótimo almoço, amigos da mesma faixa de idade botam o papo em dia. Intelectuais, bem informados, falam de política, tecnologia, cultura, só papo alto nível. Mas, sem se que se perceba, o foco da conversa muda, como da água para o vinho. Eis que já estão falando sobre um tema que é cada vez mais presente nas conversas: as dores e achaques que teimam em aparecer ultimamente. A mais veemente, uma “jovem” de 50 anos, diz que já não sabe o que fazer com o ombro. As dores, que começaram devagar, foram aumentando. Fez de um tudo: massagem, acupuntura, fisioterapia, antiinflamatório. O que de real é que sua vida se tornou um inferno. Sente dor o tempo todo, não consegue movimentar direito o braço.

Um papo leva a outro e, na mesma hora, todos têm um palpite ou um problema para relatar: é a pressão, o colesterol, o triglicérides... Até que alguém se toca e avisa: “Ei, gente, que negócio caído é esse de ficar falando de doença? Parece um bando de velhos”. Risadaria geral. Mas funcionou. Todos trataram de mudar de assunto, pois ninguém queria ficar sendo o “velhinho” chato da história. Mas, se não fosse pela “censura”, o papo não teria fim, pois todos tinham um causo a contar, uma queixa – nem que fosse da maldita balança, que só faz andar pra direita.

Claro. Porque depois dos 50, um pouco antes ou depois, elas começam a aparecer. Um dia é na perna, outro dia no pescoço, outro dia nas cadeiras. Dores que vêm e vão. Assim, sem cerimônia. No início ninguém dá muita bola. Mas quando elas se instalam, é hora da preocupação. E da constatação que o corpo está dando mostras de que a idade passa.

Só que nem eu nem nenhum dos meus amigos e colegas de geração achávamos que isso aconteceria conosco. Salvo uns poucos “realistas demais”, pensávamos que seríamos sempre jovens, que não envelheceríamos.


Ainda somos, embora não "tão jovens" como antes. Mas, graças à fantástica evolução da ciência, que vem ampliando significativamente a expectativa de vida, não há nenhuma semelhança entre os cinqüentões, sessentões e até mesmo os setentões de hoje e os de algumas décadas atrás.

E contamos, além das novas técnicas e terapêuticas, com um recurso adicional valioso: a informação. Hoje, temos condição de saber o que fazer para evitarmos ou, quando não é mais possível, lidar com os problemas de saúde. E, principalmente, sem abrir mão da qualidade de vida.

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