sábado, 15 de dezembro de 2007

Papo de jovem

Vera Dantas

Convescote numa reunião de aniversário de um quase sessentão. Esparramados no sofá digerindo o ótimo almoço, amigos da mesma faixa de idade botam o papo em dia. Intelectuais, bem informados, falam de política, tecnologia, cultura, só papo alto nível. Mas, sem se que se perceba, o foco da conversa muda, como da água para o vinho. Eis que já estão falando sobre um tema que é cada vez mais presente nas conversas: as dores e achaques que teimam em aparecer ultimamente. A mais veemente, uma “jovem” de 50 anos, diz que já não sabe o que fazer com o ombro. As dores, que começaram devagar, foram aumentando. Fez de um tudo: massagem, acupuntura, fisioterapia, antiinflamatório. O que de real é que sua vida se tornou um inferno. Sente dor o tempo todo, não consegue movimentar direito o braço.

Um papo leva a outro e, na mesma hora, todos têm um palpite ou um problema para relatar: é a pressão, o colesterol, o triglicérides... Até que alguém se toca e avisa: “Ei, gente, que negócio caído é esse de ficar falando de doença? Parece um bando de velhos”. Risadaria geral. Mas funcionou. Todos trataram de mudar de assunto, pois ninguém queria ficar sendo o “velhinho” chato da história. Mas, se não fosse pela “censura”, o papo não teria fim, pois todos tinham um causo a contar, uma queixa – nem que fosse da maldita balança, que só faz andar pra direita.

Claro. Porque depois dos 50, um pouco antes ou depois, elas começam a aparecer. Um dia é na perna, outro dia no pescoço, outro dia nas cadeiras. Dores que vêm e vão. Assim, sem cerimônia. No início ninguém dá muita bola. Mas quando elas se instalam, é hora da preocupação. E da constatação que o corpo está dando mostras de que a idade passa.

Só que nem eu nem nenhum dos meus amigos e colegas de geração achávamos que isso aconteceria conosco. Salvo uns poucos “realistas demais”, pensávamos que seríamos sempre jovens, que não envelheceríamos.


Ainda somos, embora não "tão jovens" como antes. Mas, graças à fantástica evolução da ciência, que vem ampliando significativamente a expectativa de vida, não há nenhuma semelhança entre os cinqüentões, sessentões e até mesmo os setentões de hoje e os de algumas décadas atrás.

E contamos, além das novas técnicas e terapêuticas, com um recurso adicional valioso: a informação. Hoje, temos condição de saber o que fazer para evitarmos ou, quando não é mais possível, lidar com os problemas de saúde. E, principalmente, sem abrir mão da qualidade de vida.

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10 comentários:

Anônimo disse...

Com certeza, é isto mesmo...50 anos, a idade do condor.... com dor aqui, com dor ali.. e por aí vai.. nossa agenda fica cheia de compromissos: médico isto, médico aquilo, exames laboratoriais, terapias... se antes trocávamos dicas de cabelereiros, lojas, hoje trocamos "figurinhas" sobre um médico muito bom para reposição hormonal, um terapeuta bacana e por aí vai.

Não é querer chorar sobre o leite derramado, nem dizer que a maturidade é bonita, não, não dá, dói mesmo, porque a gente tem sim, muita experiência para compartilhar, mas quem quer ouvir?

Gladis

Anônimo disse...

Vera, quando você começou a falar desse site - que virou blog - lá se vão oito, dez anos, pensei que seria um ótimo espaço para a terceira idade. Demorou! Demorou tanto que hoje somos nós o público alvo do seu sonho! Que bom! Beijo, querida!

Lucia K

Anônimo disse...

Tá aí...agora é pra valer! Histórias de voltar para casa falando ao celular e procurando por ele, com os filhos rindo, como acontece com Caco Barcelos e qualquer um de nós. Perder tudo, esquecer aquele nome inesquecível... Muitas histórias e risos vão rolar no caudaloso rio da Plenidade.

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog! Espero aprender muito para quando chegar a minha vez de desfrutar da melhor idade...

Beijos!

Anônimo disse...

Parabéns adorei o blog. Irei juntar-me a vocês breve.Beijos

Anônimo disse...

Vera, li seu depoimento sobre uma amiga que se queixa de dores no ombro e no braço e vou dar um pitaco sobre o assunto, com a autoridade de quem já sofreu esses achaques. Na maioria das vezes essas tais dores são provenientes de problemas em hérnias de disco - notadamente da coluna cervical- que, deslocadas da posição original, pressionam as enervações. Uma das saídas para ficar completamente curado, obviamente se o caso for esse, é operar a coluna, implantando um disco de titânio no lugar. A operação é simplérrima, pode sair do hospital até no mesmo dia, e dar adeus às dores, como aconteceu comigo. Meu ombro e braço direito está 0 km.

Anônimo disse...

digo: estão 0 km. Sorry

arthur disse...

Verinha:

Salve! Finalmente no ar o tão esperado blog dos sexagenários.
Longa vida.
Prá quem gosta de estórias aí vai uma http://bau-digital.blogspot.com/2007/09/sartre-volta-cit-universitaire-em-1971.html#links

Anônimo disse...

verinha

finalmente consegui enviar meu comentario. agora aprendi. acho que é a idade. rsrsrsrsrs
beleza de texto. insuportavelmente realista.

marco rossini

Anônimo disse...

Vera,
Obrigado!!!
Um forte abraço. FM