Carolina Ynterian*
Enquanto se vive, sempre há tempo para tudo. Esse ditado popular pode valer para muitas situações, mas definitivamente não se aplica quando o assunto é maternidade. Nesse quesito, o tempo é implacável. Mesmo com os avanços fantásticos ocorridos nos últimos anos na medicina, especificamente na área de reprodução humana, e com a constatação de que estamos vivendo mais em comparação ao passado - na época dos faraós, no Egito antigo, poucas pessoas chegavam aos 45 anos e hoje, segundo o IBGE, a expectativa média de vida gira em torno dos 72 anos - ainda existem limitações para as mulheres que querem engravidar na fase madura, também chamada de idade da loba.
Não adianta. Não tem acordo. Apesar das várias conquistas no campo profissional - podemos ser engenheiras, físicas nucleares, motoristas de táxi, presidentes de empresas e exercer várias outras ocupações que eram de domínio exclusivo dos homens -, e de vitórias importantes no campo pessoal - temos a liberdade de viver a nossa sexualidade como bem entendemos, o que era impensável há apenas poucas décadas -, a biologia não nos acompanhou no mesmo compasso. A realidade tem confirmado que o tempo é mesmo um fator limitador. Se para uma mulher jovem a chance de engravidar por ciclo é de 30%, para as balzaquianas esse percentual cai para 20%. Após os 40 anos, apenas 5% terão filhosnaturalmente.
É injusto, não há dúvida. Numa época em que há tanto para se fazer, em que (quase) tudo é permitido, em que a cosmética evoluiu a ponto de contribuir para que possamos parecer mais belas e jovens por mais tempo, não é de se admirar que uma mulher acabe postergando a maternidade. O universo de possibilidades se expandiu e, com isso, nada mais natural do que querer tornar-se múltipla. E nesse afã de tentar abraçar o mundo com as mãos, o tempo passa muito mais rápido do que conseguimos perceber e quando finalmente o despertador do relógio biológico toca, vemos que estamos próximas aos 40 minutos do segundo tempo, quando as possibilidades de marcar o tão sonhado gol diminuem drasticamente e podem até inexistir sem a ajuda de um técnico experiente.
A boa notícia é que as mulheres que querem ser mães já contam com vários e excelentes "técnicos", ou seja, médicos, muitos dos quais reconhecidos internacionalmente e experts em reprodução assistida e que utilizam as mais variadas técnicas de reprodução, que se aperfeiçoam a cada dia. Em muitos casos, as chances de sucesso são grandes. Mas mesmo assim, requerem boa dose de paciência, determinação e repetição exaustiva das tentativas. Pessoalmente não passei por isso e tenho duas lindas filhas. Mas conheço muitas mulheres que não tiveram a mesma sorte. Sei como pode ser frustrante e sofrido o processo de querer engravidar e precisar passar por uma verdadeira maratona para transformar o sonho em realidade. Se isso já é complicado para as mulheres jovens, que também apresentam essa dificuldade mas que têm o tempo a seu favor, imagine para as que já passaram dos 40, em que cada dia faz, de fato, diferença.É importante saber que hoje existem ferramentas mais práticas e fáceis de usar que podem auxiliar as mulheres a monitorar seus períodos de fertilidade. Um dos exemplos é um auto-teste que pode ser comprado em farmácia e que tem como trunfo o de ser um importante aliado, não só da mulher que está tentando engravidar, mas também do médico que a está auxiliando nesse processo. Com ele, a mulher pode saber quando está em seu período fértil, com margem de acerto superior a 99%, porque consegue detectar qualitativamente o aumento do Hormônio Luteinizante (LH) que ocorre por um breve período, no meio do ciclo menstrual. Esse aumento, chamado de pico do LH e que pode ser identificado na urina, é o causador da ovulação. Saber quando isso acontece, com alta margem de acerto, pode reduzir em muito o tempo gasto em tentativas de engravidar. Através de testes como esse, a mulher sabe quando está fértil e se tiver relações sexuais nesse período, suas chances de sucesso aumentam consideravelmente.
Como bioquímica, especializada em biologia molecular, sei que o auto-teste é apenas uma ferramenta coadjuvante no complexo processo de reprodução, mas seu uso pode contribuir para que uma mulher realize o sonho de ser mãe. Lobas ou gatinhas, conservadoras ou modernas, profissionais ou donas-de-casas, ousadas ou tímidas, não importa em qual grupo se encaixem, todas igualmente merecem concretizar este belo projeto. Que a natureza e a ciência as abençoe nessa caminhada.
* Carolina Ynterian é bioquímica, especializada em biologia molecular e presidente da Associação das Indústrias Brasileiras de Produtos para Laboratórios (Assibral).
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