segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A dor e a delícia de passar dos 40

Silvia Giurlani*

"Não confie em ninguém com mais de 30 anos" era o slogan entoado pela bela canção de Marcos e Paulo Sérgio Valle e que os adolescentes, na década de 1970, repetiam à exaustão como um verdadeiro mantra. Hoje a nova ordem é "não confie em ninguém com mais de 30 anos, que nunca tenha aplicado botox, feito lipoaspiração, colocado silicone (nos seios, lábios, bochechas, bumbum) ou que não se mate em academias para manter um corpitcho sarado". E eu que sempre fui meio avessa à tudo que remeta à beleza artificial ou à prática de qualquer ginástica ou esporte (sou realmente alérgica a isso, a ponto de passar mal) sinto-me na contramão da história.
Era o que me faltava: no auge dos meus 48 anos, ser relegada ao mundo dos Ets ou ao Jurassic Park! E justo agora, que me sinto mais dona de mim, que já superei tantos medos e mágoas, que entendo melhor a humanidade, que já perdoei meus pais e meus desafetos, que já não preciso pagar ao analista para saber quem eu sou, a tal maturidade bate à porta e, junto com ela, a inexorável constatação de que meu corpo - esta tão incrível máquina, resultante da fantástica arquitetura cósmica - está se desgastando. Calores, impaciência e irritação provocados pelo fatídico climatério e o espelho cruel mostrando a cada dia uma nova ruga, ou que o rosto parece que deu uma caída, e a balança implacável que acusa novos quilos adquiridos sabe lá Deus como, são apenas alguns dos inconvenientes trazidos pela passagem do tempo.
E como se tudo isso não bastasse, ainda sou submetida a uma enxurrada de mensagens de médicos, nutricionistas, psicólogos, dermatologistas, especialistas em estética, celebridades, atrizes e modelos esqueléticas afirmando em uníssono de que é preciso tomar medidas urgentes para que a juventude não escape de vez. Socorro!! Querem me convencer que só envelhece quem quer! E pior: querem me fazer acreditar que ficar parecida como uma múmia paralítica e inchada (que é a aparência das que já passaram dos 40 e se entopem de botox) é mil vezes melhor do que deixar a natureza seguir seu curso.
Não é justo! Eu protesto! Claro que não acho nada divertido ver as mudanças no meu corpo, não ter mais a mesma disposição de outrora para tantas coisas, e tudo o mais. Mas o que há de errado em querer envelhecer com dignidade ? Óbvio que é preciso dar mais atenção à saúde, evitar abusos de qualquer espécie e não descuidar do visual. Mas por que cargas d’água devo querer ter uma aparência de 30 se já estou com 48?
Do jeito que a coisa vai e com os avanços da medicina e da genética, não me admiraria nada se, dentro de poucos anos, já pudermos literalmente comprar novos corpos. Nos meus delírios futuristas imagino um mundo em que será possível recriar o próprio corpo a partir de uma célula qualquer. Seria mais ou menos como uma clonagem, só que bem mais sofisticada que a atual e que permitiria algumas melhorias conforme o gosto do freguês. Assim, uma mulher que originalmente nasceu com culote, ao invés de se submeter a plásticas para corrigir essa pequena imperfeição estética, poderia encomendar um outro corpo, com ancas bem menos arredondadas. Veja bem, ela continuaria tendo as mesmas características básicas, mas poderia fazer algumas melhorias genéticas e corrigir o que bem entendesse. E quando a quilometragem avançasse, poderia comprar um corpo mais jovem e assim o sonho da juventude eterna se tornaria realidade.
Pode ser que muita gente vibre com essa idéia. De minha parte e sem o menor constrangimento em parecer mais uma vez "do contra", espero sinceramente já estar em outra dimensão SE ou QUANDO isso acontecer!

*Sílvia Giurlani é jornalista, mora em São Paulo
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2 comentários:

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

Adorei o texto! Mas já tem gente que, como nós, trafega na contra-corrente (tem hífen ou não??) Por exemplo, a Anne Kreamer, que escreveu um livro já lançado no Brasil: "Meus Cabelos Estão Ficando Brancos, mas eu me sinto cada vez mais poderosa", pe,a editora Globo.

Anônimo disse...

Ótimo!
Voce é do meu time.Esta sanha da eterna juventude a qualquer custo é uma loucura que toma conta de todas por aqui. Estive recentemente na Europa em que raramente vemos os olhos plastificados, todos iguais, os peitos turbinados todos iguais, a falta de expressão facial devido ao botox, todos iguais, os cabelos todos pintados todos da mesma cor da moda. O que importa é a idade interna que temos e algum cuidado com os cabelos que vão perdendo o brilho, o hidratante básico para disfarçar a falta de viço da pele, comer de tudo que nos dá prazer mas em menores quantidades,alguns exercícios de alongamento para não enferrujar, muita atividade intelectual prazeirosa, muitas amizades gostosas, trabalhar naquilo que gostamos, fazer sexo é claro e deixar de lado o terrorimo da moda, em fim ser bonita é um estado de espírito.