segunda-feira, 23 de março de 2009

Bangue-bangue real

Eu e meu marido chegávamos à esquina de minha rua, ontem no fim da manhã, quando ouvimos vários estampidos. Na dúvida se eram ou não tiros, e também como pareciam estar longe, não demos bola e continuamos o nosso percurso. Quando li o jornal, hoje, confirmei que o tal som que a gente ouviu eram realmente tiros, de fuzil, disparados durante um tiroteio entre polícia e traficantes na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. Mas um detalhe me assustou bastante: um dos tiros perfurou o telhado de uma casa, numa rua vizinha à nossa, no Humaitá, e por sorte, não atingiu a moradora, que estava colocando o neto para dormir. E nem nós, em nossa despreocupada caminhada.

Como se isso não fosse o bastante, hoje teve repeteco. Quando ia saindo para o escritório, novo som de tiroteio. Só que, desta vez, muito mais forte que o da véspera, uma mistura de tiros curtos e repetidos e explosões, além do barulho de helicópteros e sirenes.

De novo, a confusão chegou bem pertinho, como li no Globo online. Na fuga, os bandidos alcançaram o Humaitá. Dois foram presos exatamente em frente ao prédio onde morava o meu filho Lucas, antes de se trocar o “balneário” pelo “arraial” e se tornar paulioca.

Até agora, eu achava que a violência estava longe. O mais perto que ela chegara foi durante a “guerra” entre os traficantes dos morros Dona Marta e Tabajaras, quando podíamos ver, à noite as balas traçadoras riscando o céu. Eu até curtia descrever o “espetáculo” para os assustados amigos paulistas.

Hoje, a ficha caiu. Como uma bala de fuzil pode percorrer até cinco quilômetros, mesmo em trajetória de subida e descida, um tiro disparado num bairro pode atingir pessoas no bairro vizinho. Compreendi que estou no meio da linha de fogo. Que não dá mais para chegar na janela para conferir se o barulho parecido com tiro – mesmo longínquo - é tiro mesmo, pois corro o risco de ser atingida por ele. Durante o bangue-bangue, pensei apenas em identificar a área mais protegida do apartamento. E lá fiquei, até tudo se acalmar.

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2 comentários:

Sonia Aguiar disse...

Vera, a minha ficha caiu de vez durante a minha breve estadia no Grajaú. Numa tarde de meio de semana eu estava calçando tênis para ir à casa da minha mãe, no subúrbio de Piedade, quando comecei a ouvir tiros. Parecia que eram na rua (eu estava em um apartamento térreo de fundos). Como, algumas horas antes, tinha havido aquele episódio de barricadas em frente à Mangueira, achei que eram um prolongamento daquele "motim". E fiz o mesmo movimento que você, fui para a Internet, procurar informação. Logo descobri que o tiroteio era entre traficantes de dois morros muito próximos, e que o ônibus que eu teria que pegar passaria por uma das entradas de um deles. Então soube, claramente, o que é ser prisioneira dentro de casa, como acontece com inúmeros moradores de favelas e bairros pobres. Ontem, aqui em Aracaju, escutei ao longe um grande foguetório... de fogos, muitos fogos. Inevitavelmente lembrei dos avisos de chegada de drogas (e/ou armas) nos morros cariocas, e perguntei à senhora que me hospeda aqui o que era aquilo. Diante de um displicente "sei não", comentei o que esse tipo de foguetório significa no Rio. Então, calmamente, com um meio sorriso nos lábios, ela me disse: "se preocupe não que aqui fogos são só de alegria".

Anônimo disse...

Sônia,
A frase final mostra que você já começou a aproveitar um dos muitos frutos de sua mudança, a qualidade de vida.